terça-feira, 15 de novembro de 2016

15 de Novembro - Dia Nacional da Umbanda



Amigos leitores, 

Hoje, 15 de Novembro, comemoramos mais um centenário da Umbanda, neste sentido, todas as manifestações que rememoram o dia e os acontecimentos percursores da mais autêntica religião brasileira, devem ser contemplados, sobretudo, como uma ação de manutenção da memória histórica e cultural umbandista. Nossa contribuição apresenta-se dentro de perspectivas mais simpáticas às nossas atividades .

Sobre o famoso e muito divulgado, advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas de 15 de novembro de 1908, disponibilizamos com a ajuda do site GUIA - HEU,  além dos livros especializados, um pequeno resumo, a fim de ilustrarmos os acontecimentos comemorados hoje e para nosso particular estudo, subsidiará alguns outros pontos que serão tratados ainda neste texto na sequência...

 “... Em 15 de novembro de 1908, compareceu a uma sessão da Federação Espírita, em Niterói, então dirigida por José de Souza, um jovem de 17 anos de tradicional família fluminense.  Chamava-se ZÉLIO FERNANDINO DE MORAES. Restabelecera-se, no dia anterior, de moléstia cuja origem os médicos haviam tentado, em vão, identificar.  Sua recuperação inesperada por um espírito causara enorme surpresa.  Nem os doutores que o assistiam nem os tios, sacerdotes católicos, haviam encontrado explicação plausível.  A família atendeu, então, à sugestão de um amigo, que se ofereceu para acompanhar o jovem Zélio à Federação.
Zélio foi convidado a participar da Mesa. Zélio sentiu-se deslocado, constrangido, em meio àqueles senhores.  E causou logo um pequeno tumulto.  Sem saber por que, em dado momento, ele disse: "Falta uma flor nesta casa: vou buscá-la".  E, apesar da advertência de que não poderia afastar-se, levantou-se, foi ao jardim e voltou com uma flor que colocou no centro da mesa.  Serenado o ambiente e iniciados os trabalhos, manifestaram-se espíritos que se diziam de índios e escravos.  O dirigente advertiu-os para que se retirassem.  Nesse momento, Zélio sentiu-se dominado por uma força estranha e ouviu sua própria voz indagar por que não eram aceitas as mensagens dos negros e dos índios e se eram eles considerados atrasados apenas pela cor e pela classe social que declinavam.  Essa observação suscitou  quase um tumulto.  Seguiu-se um diálogo acalorado, no qual os dirigentes dos trabalhos procuravam doutrinar o espírito desconhecido que se manifestava e mantinha argumentação segura.  Afinal um dos videntes pediu que a entidade se identificasse, já que lhe aparecia envolta numa aura de luz.
Se querem um nome - respondeu Zélio inteiramente mediunizado - que seja este: eu sou o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, porque para mim não haverá caminhos fechados.
E, prosseguindo, anunciou a missão que trazia: estabelecer as bases de um culto, no qual os espíritos de índios e escravos viriam cumprir as determinações do Astral.  No dia seguinte, declarou ele, estaria na residência do médium, para fundar um templo, que simbolizasse a verdadeira igualdade que deve existir entre encarnados e desencarnados.
Levarei daqui uma semente e vou plantá-la no bairro de Neves, onde ela se transformará em árvore frondosa.
No dia seguinte, 16 de novembro de 1908, na residência da família do jovem médium, na Rua Floriano Peixoto, 30 em Neves, bairro de Niterói, a entidade manifestou-se pontualmente no horário previsto - 20 horas.
Ali se encontravam quase todos os dirigentes da Federação Espírita, amigos da família, surpresos e incrédulos, e grande número de desconhecidos que ninguém poderia dizer como haviam tomado conhecimento do ocorrido.  Alguns aleijados aproximaram-se da entidade, receberam passes e, ao final da reunião, estavam curados.  Foi essa uma das primeiras provas da presença de uma força superior.
Nessa reunião, o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS estabeleceu as normas do culto, cuja prática seria denominada "sessão" e se realizaria à noite, das 20 às 22 horas, para atendimento público, totalmente gratuito, passes e recuperação de obsessores. O uniforme a ser usado pelos médiuns seria todo branco, de tecido simples.  Não se permitiria retribuições financeiras pelo atendimento ou pelos trabalhos realizados.  Os cânticos não seriam acompanhados de atabaques nem de palmas ritmadas.
A esse novo culto, que se alicerçava nessa noite, a entidade deu o nome de UMBANDA, e declarou fundado o primeiro templo para sua prática, com a denominação de tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, por que: "assim como Maria acolhe em seus braços o Filho, a Tenda acolheria os que a ela recorressem, nas horas de aflição.
Através de Zélio manifestou-se, nessa mesma noite, um Preto Velho, Pai Antônio, para completar as curas de enfermos iniciadas pelo Caboclo. E foi ele quem ditou este ponto, hoje cantado no Brasil inteiro: "Chegou, chegou, chegou com Deus, Chegou, chegou, o Caboclo das sete Encruzilhadas..."   


Casa de Zélio, onde ocorreu a anunciação da Umbanda
    Zélio Fernandino de Moraes   
A obra mais recente sobre a investigação histórica da Umbanda é para nós, importante referência nos textos até o momento publicados, a série de Diamantino Fernandes Trindade, História da Umbanda no Brasil, em seu primeiro volume, aloca inicialmente o contexto sócio-histórico em que surge a Umbanda e traz um outro personagem que antecede o Caboclo das Sete Encruzilhadas na divulgação que um novo movimento se iniciaria sob bases diferenciadas em breve.
Acerca da conjuntura do ambiente de nascimento da Umbanda, o Rio de Janeiro, capital federal, sentia ainda os impactos do século XIX, que o arrebatou com o movimento de Independência de 1.822, da abolição da escravatura de 1.888 e da Proclamação da República de 1.889, alterando profundamente sua ordem social estabelecida. A urbanização e industrialização do período, fez surgir, centros periféricos de ex-escravos que para sobreviverem realizavam todos os tipos de magias e rituais potencializando ainda mais os elementos de sincretismos entre a tradições africanas, as europeias (Católica e Kardecista), além das indígenas. Assim disseminava-se de modo intensificado o processo de mediunização por todo o país. É neste momento de efervescências, de fenômenos e ocorrências que surge a indicação dos trabalhos realizados pelo Caboclo Cuguruçu, de muitos poucos registros históricos, talvez seja por isso que referências ao seu trabalho apareçam de modo tão esparso, ele precedeu as manifestações do Caboclo das Sete Encruzilhadas, no sentido de indicar que uma nova configuração de culto se iniciaria em breve, tido como o "preparador" do advento conhecido. No referido livro, temos inclusive, a transcrição do ponto cantado do Caboclo Cuguruçu: 


Eu vem lá de Aruanda
Trazendo a Luz, a Luz da Umbanda
Eu vem com o clarim de Ogum
Anunciar que a Umbanda vai chegar
Eu é Caboclo de Umbanda
Eu venho do Cruzeiro do Sul
Eu é Caboclo Cuguruçu

Meu grito já ecoou
É a Umbanda que chegou 
Meu grito ecoou
Pai Oxalá quem me mandou

Eu é Cuguruçu
Da corrente de Ogum
Que aqui chegou   

Os detalhes que precederam e os desdobramentos do dia 15 de Novembro de 1908, podem hoje, serem investigados e estudados nas mais variadas fontes, uma quantidade significativa de publicações foram produzidas, tanto de dentro como de fora da Umbanda. Fotos, vídeos e outros recursos podem ser acessados e verificados que o chefe como era chamado o Caboclo das Sete Encruzilhadas, fundou e determinou as diretrizes básicas para o funcionamento da religião que atravessou diversas situações e até hoje, apesar das mudanças e novas tendências ainda sobrevive. 
Nossa contribuição, valendo-nos de alguns recursos referenciais, foi apenas demonstrar uma fagulha de acontecimentos para manter viva esta memória histórica no movimento umbandista.

Tenham todos uma ótima semana!
Axé e Salve a Umbanda nesses 108 anos de existência !