Primeiramente, faz-se necessário
pontuar a importância deste “Projeto-Revista”, à medida que sua concepção,
sobretudo, multiplica a oferta de escritos sobre Umbanda nas suas mais
diversificadas expressões.
A relativização da oferta de
textos reflexivos em termos quantitativos, tendo em vista as tendências
tecnológicas utilizadas como ferramentas de relacionamentos, como
sistematização de campanhas publicitárias e de produção de conteúdos, hoje é
mais abrangente. De fato esse é o contexto, nisso creio que a maioria concorda.
Contudo, refiro-me às contradições existentes no cerne deste aspecto. As
simplificações, a reprodução de conceitos, a banalização dos fundamentos e a
comercialização da crença se apresentam de forma explícita neste processo. Como
nós umbandistas podemos, contraculturalmente, agir para diminuir os abismos
existentes? Pensando, alguns dirão. Por isso, a produção textual independente -
seja informativa ou literária - torna-se peça chave neste processo.
Sobre a Filosofia, esclareço,
minha preocupação não é formar paralelos com conceitos ideias da religião de
Umbanda em consonância às teorias filosóficas historicamente reconhecidas. Por
exemplo, estudos que aproximem os conceitos gerais sobre “Moral e Ética” no
olhar umbandista, ou seja, quais conjuntos culturais, simbólicos ou
comportamentais definem o umbandista de formação em sociedade? Ou quem sabe, a
Umbanda por ser essencialmente inclusiva e tolerante, possa equivaler-se por
teorias políticas da filosofia. Enfim existem exemplos consistentes de que a
Filosofia, pelo menos em parte está presente na religião.
Mas a reflexão por aqui,
compreende a busca por um projeto filosófico generalista quando nos referimos à
Umbanda. Será que é possível? Para tanto, necessitamos entender definições
acerca do que é Filosofia. As variações são muitas, talvez, não exista consenso
para esta definição. Para efeito de compreensão, transcrevo aqui a referência
do livro “História da Filosofia” de Padovani e Castagnola, 10ª edição, 1974. “Filosofia
é a ciência das causas primeiras, para resolver o problema da vida”. Em
outras palavras, é a busca por resolução dos problemas sejam eles científicos,
religiosos, políticos ou até individuais, pela força da razão sem dogmas e
autoproclamação de verdades absolutas.
Um dos “ramos” de estudo da
filosofia é a religião. Nele os pensadores se debruçaram por levantar aspectos
básicos de investigações filosóficas. Para citar alguns dos mais importantes,
temos: Será que Deus realmente existe? O que é a fé? Vivemos com
livre-arbítrio? Enfim, este ramo filosófico preocupa-se em investigar a
finitude das percepções religiosas acerca da nossa natureza.
Contudo, a Umbanda apresenta
formação eclética, abarca um conjunto de valores universais sem possuir fonte
comum. O fenômeno social de construção umbandista tem pouco mais de um século
de vida e traz consigo significações multiculturais. Heranças africanas nos
deixaram os orixás; as teorias de Kardec nos trouxeram a crença no mundo
espiritual e as leis que estamos submetidos: dos povos nativos a pajelança e o
ancestral conhecimento sobre a natureza; dos povos europeus a cristianização e
o sincretismo com seus santos. Racionalizar a fé umbandista é entender de que
maneira ela foi elaborada no plano material e em quais circunstâncias? Como
está seu desenvolvimento ao longo dos anos? Quais são seus objetivos? O que ela
espera do umbandista e o que o umbandista espera dela? Quem a representa seja
na literatura, na ciência ou nas artes desenvolvendo suas diretrizes maiores?
Ela cumpre o papel que se propôs? Talvez sejam estas as pistas para traçarmos
uma investigação racional acerca dela. No mais, entendo, resumir-se tudo a uma
questão de fé e de diversidade cultural. Fé sem dogmas, preconceitos ou
imposições. Diversidade cultural nos conceitos, ritos e significados.
Faço votos para que a Filosofia
compreenda e explique cada vez mais sobre o mundo. E que a Umbanda, como
representante de símbolos e caminhos, esteja nele.
OBS.: Esse texto foi elaborado como parte de uma colaboração para o projeto Revista do Leitor Umbandista, em conjunto ao Blog do Leitor Umbandista.