sexta-feira, 27 de março de 2015

A Filha de Olorum



Saudações a todos !


Revirando nossos arquivos e pesquisando pela internet, nos deparamos por diversas vezes com esse belo texto que por muitas vezes foi publicado, diga-se de passagem com todo mérito. Tendo em vista a reincidência de nossos encontros, fato concomitante com alguns de nossos objetivos, o incentivo a leitura, pesquisa e reflexões, nos sentimos na obrigação de também compartilhar esta fábula com vocês...



A Filha de Olorum

Por Fernando Sepe

E sua majestosa voz ecoou pelo alto, pelo embaixo, pela esquerda e a direita, pelo a frente e o atrás, pelo envolta. Por determinação do Pai - Mãe de todos, uma nova religião nasceria sob solo brasileiro. Era sua filha mais nova, a Umbanda.

E um verdadeiro rebuliço começou no Orum, pois logo o mais respeitado dos Orixás se ergueu de seu Trono e disse que ele seria o responsável e sustentador maior da religião. Oxalá abençoava o nascer da mais nova filha de Olorum, e a assumia nos Seus Divinos Braços. Nela a espiritualidade e a fé estariam presentes, como aceleradora da evolução de todos. Não existiriam dogmas, e apenas um grande fundamento: Amor e Caridade.
Logo começaram a chegar os Orixás, todos também abençoando e apadrinhando a nova filha de Olorum.  Ogum e Iansã, os mais emocionados de todos, diziam que protegeriam a nova religião com as armas da Lei. 
E então a voz trovão de Xangô ecoou, pelos quatro cantos do Orum, dizendo que ele seria a Justiça a favor de todos. Sua palavra seria Lei, e todos os filhos de Umbanda nada temeriam, pois todos são filhos de Rei, o Rei Xangô. 
Também apresentou a todos sua mais nova esposa, Egunitá a quente irmã mais nova de Iansã. Ela que era “fogo puro” encantou a todos, e disse que protegeria a Umbanda.
E assim a filha mais nova de Olorum ganhou seus dois padrinhos: a Lei Maior e a Justiça Divina.
Mas algo engraçado aconteceu. Muitos espíritos vindos de um dos muitos bairros do Orum, Aruanda, disseram que eles seriam os trabalhadores e a linha de frente da religião, além de assumirem a condução dos médiuns umbandistas. 
Oxalá que é o senhor das formas, e pai da Umbanda, consentiu e determinou que por homenagem ao povo negro e indígena, todos assumissem a forma de Caboclos e Pretos - velhos.  
E logo chegou Oxossi de uma de suas muitas caçadas, e assumiu toda a linha de Caboclos, tornando - se o Rei dos Caçadores. Distribuiu um diadema a todos consagrando - os como caboclos. Todos os caboclos trazem até hoje, o diadema ganho do Rei das Matas. 
E o velho Obaluayê junto de Nanã, abençoou todos os espíritos anciões que se consagravam ao trabalho da linha de pretos - velhos. Concedeu a eles a sabedoria que só o passar do tempo pode conceder. E todos se transformaram em ótimos conselheiros e curadores, principalmente das chagas da alma. 
E por falar em tempo, ele também estaria presente. Oiá-Tempo/Logunan (xará de Iansã – Oiá), seria responsável pela força do tempo dentro da nova religião. E como ela é muito observadora e vamos dizer bastante desconfiada, seria a guardiã da fé e dos processos da religiosidade. E "ai" de quem pisasse na bola da religiosidade. Lá estaria Oiá com seu olhar congelante... 
Iemanjá que é uma  “mãezona" queria que todos os espíritos que se manifestassem para a caridade pudessem ser aceitos no ritual, sabe como é, "em coração de mãe sempre cabe mais um". E assim ficou decidido, pois ninguém tem coragem de negar um pedido da encantadora Rainha do Mar. E a Umbanda acolheria a todos, caso viessem para prestar a caridade. Surgia então, as muitas linhas de trabalho, como baianos, marinheiros, boiadeiros e os muitas vezes renegados pelo próprio povo de origem, os ciganos...  
E de repente apareceu Oxum, perguntando que festa era aquela. Quando ficou sabendo que era o nascimento da mais nova filha de Olorum, começou a chorar e a abençoou com suas lágrimas que caíam de seus olhos como duas enormes cachoeiras. (ela é muito chorona, mas não gosta que a gente fale sobre isso...) 
E de presente a ela, chamou Oxumaré, que transformou tudo em cores e disse que renovaria e embelezaria tudo com seu axé colorido.
E junto do seu arco – íris vieram os encantados da natureza, as crianças que seriam a alegria da Umbanda. 
O “time” estava quase completo, quando da terra surgiu o amado Tatá Omulu e Obá. Não muito sorridentes, para falar a verdade, bem sérios e um pouco secos, disseram que também fariam parte da nova religião. Que queriam ver seus cultos renovados, e seriam a força do elemento terra. Obá que depois de muitas desilusões, nada mais queria com Xangô, resolveu unir – se a Oxossi, e ajuda-lo a disseminar o conhecimento. 
Omulu que é muito calado colocou-se do lado de Iemanjá, dizendo que a guardaria por todo o sempre. Na verdade até umas lágrimas foram vistas cair de seus olhos, negros como a noite. Ele é meio incompreendido, mas quem o conhece sabe que é o mais amoroso dos Orixás. 
Todos estavam comemorando, quando não sabe-se direito porque uma confusão começou, e ninguém mais sabia o que iria fazer. Oxalá que muitas vezes já tinha sido enganado por “ele”, não seria novamente. Logo disse:
-Laroiê Exu! Você também é convidado a participar da nova religião. Será responsável pela esquerda de todos. Mas vai ter que seguir as Leis de Xangô, e será acompanhado de perto por seu querido irmão Ogum! 
Uma gargalhada soou por todo Orum, e Exu apareceu. Junto dele a mais bela moça, Pombagira. Exu ficou feliz, disse que agora teria Pombagira para dividir seu trabalho, mas que não abriria mão de ser sempre o primeiro a ser firmado. Não porque ele era aparecido, mas sim porque era ele quem guardaria os templos e casas de Umbanda. 
E muito esperto que era, disse:
- Olha, eu vou supervisionar o trabalho junto com Pombagira. Mas vou deixar uns espíritos trabalhando com a minha força fazer o trabalho. Afinal o que o homem faz, o homem que desfaça. E também o meu irmão Oxossi é senhor da linha de Caboclos, porque eu não posso ser senhor da Linha de Exu? 
Bom, começaram umas discussões, mas acabou acertado que o Orixá Exu atuaria na Umbanda, a partir de sua linha de trabalho. Seria a linha que faria o trabalho pesado, além de serem os guardiões dos médiuns, e dos templos de Umbanda. 
Assim todos os Orixás muito emocionados, deram as mãos e começaram a orar pelo sucesso da mais nova filha de Olorum.
O Pai e Mãe de Todos se manifestou:

 “Meus amados filhos Orixás, a Vós eu consagro minha filha nova e dileta, a Umbanda. Que ela transforme – se em uma religião semeadora de luz, amor e caridade. Que seja espiritualista e universalista, que esteja aberta a todos de bom coração. E que em sua pedra fundamental esteja escrito o seu único dogma: Amor e Caridade!”.

E de Si Sete intensas irradiações partiram, e envolveram sua filha querida. Todos se emocionaram e agradeceram a Olorum, por essa benção a humanidade.
Quase cem anos passaram, e a Umbanda cresceu um bocado.
Transformou – se um uma linda jovem, amorosa e alegre. Amparada por seu Pai Oxalá, e seus padrinhos, a Lei Maior e a Justiça Divina, ela vai vencendo todos os obstáculos. 
Os seus trabalhadores conquistaram o coração das pessoas. Todos correm para escutar a palavra de sabedoria do preto – velho, ou a conversa pura e alegre da criança.
Os Caboclos transformaram-se na linha de frente da Umbanda, trazendo as qualidades dos nossos amados pais e mães Orixás. Onde existe um Pena Branca, lá está a paz e serenidade de Oxalá. Onde trabalha um Sete Espadas, estão os olhos da Lei. 
Exu e Pomba-gira se fizeram presentes tornando-se sinônimos de proteção e cumprimento da Lei, seja na seriedade do Tranca-Ruas, no olhar penetrante do seu Capa Preta, ou na força da Rainha Maria Padilha.
Todos os espíritos podem se manifestar para a caridade, como um dia pediu a “mãezona” Iemanjá, surgindo assim a alegria dos muitos “Zés” que trabalham na Umbanda.
E principalmente a Umbanda tornou-se sinônimo de amor e caridade, de luz e evolução espiritual.

Esse texto é apenas uma fábula, uma lenda ou um Itan, que presta também sua homenagem à filha mais nova de Olorum. É um pedido para que enfim as pessoas entendam que existe algo maior que a “minha” ou “a sua” Umbanda. Simplesmente existe A UMBANDA, filha querida de Olorum, que encanta a todos os Orixás, e enche os olhos do velhinho e amoroso Oxalá de lágrimas de felicidade e amor...
(Sepe, em homenagem a Umbanda, essa linda religião universalista, doada a todos nós pelos amados Pais e Mães Orixás).

Seguem alguns links dos sites que encontramos esse texto:

http://aalmadascoisas-annapon.blogspot.com.br/2014/07/ola-sinceramente-gostei-muito-do-texto.html
http://www.umbandaead.com.br/noticias/view/16
- http://www.genuinaumbanda.com.br/artigos/a_filha_de_olorum.htm