Olá amigos e leitores!
Nesta segunda postagem da coluna "Diálogo com Autores", entrevistamos o autor umbandista Douglas Rainho, idealizador do Blog Perdido em Pensamentos que também possui um canal no Youtube , médium umbandista e defensor de ideias e opiniões bem contundentes, nosso convidado para este bate-papo não se esquiva das perguntas e contribui muito para o debate sobre os principais temas relacionados à Umbanda.
Seu livro, "Conhecendo a Umbanda - Dentro do Terreiro", ponto central deste diálogo, entre outros temas que abordamos, tem linguagem simples e objetiva contribuindo para uma leitura fluída e agradável. Sem dúvidas podemos indicar a todos os leitores umbandistas, em especial, aos recém chegados aos terreiros e centros.
Entre os temas abordados o destaque vai para as assertivas em torno do tema " As Sete Linhas de Umbanda" , que fora tão ressignificado e até mesmo modificado ao longo da história umbandista, suas considerações tomam por base os escritos de Leal de Souza, autor da obra "O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda", publicada ainda na década de 1930.
Os textos que tratam de desmistificar a relação que a religião têm com o uso de ervas, bebidas, fumos, velas e pembas também são parte importante do livro, combatendo e conscientizando os praticantes quanto aos fundamentos e aplicações.
A segunda parte do livro, Espiritualidade e Mediunidade, merece uma também observações especiais, pelo seu caráter muito pertinente e de simples entendimentos sobre a lei de causa e efeito, reforma interior, animismo, mistificação, obsessão, exageros e condutas, entre outros. Esses temas, quando tratados, nem sempre oferecem objetividade e simplicidade em suas observações, mas, neste caso, o leitor pode ampliar ou até mesmo estabelecer contatos iniciais com a temática.
Enfim, "Conhecendo a Umbanda - Dentro do Terreiro" é super recomendado, traz consigo um amplo apanhado de temas fundamentais para de fato, conhecermos a Umbanda. Abaixo, confiram, a entrevista que o autor concedeu ao nosso Blog.
DIÁLOGO #02.
Blog N.M.U- Douglas, agradecemos a oportunidade concedida ao nosso canal em conversamos sobre a Umbanda e suas atividades.
D.R -Primeiramente
eu agradeço pela oportunidade de expor um pouco do que faço e pela confiança
depositada em mim nessa entrevista.
Blog N.M.U-Como
aconteceram seus primeiros contatos com a religião de Umbanda? Quais
“funções” desenvolve hoje dentro do grupamento que participa?
D.R - A religião de Umbanda, de
alguma forma, sempre fez parte da minha vida. Meus pais perderam uma filha
antes de mim em um acidente de automóvel, onde a bebê tinha apenas 7 meses,
inclusive também foram vítimas deste os padrinhos da minha mãe, o meu avô materno
e minha avó ficou gravemente ferida. Meus pais não estavam nesse automóvel,
haviam ido para outro local no litoral de São Paulo e meu avô com medo de
deixar minha irmã com minha mãe em um local com muito sol, ficou cuidando dela,
mas foram “pagar” uma promessa na cidade de Aparecida e infelizmente ocorreu o
acidente. Minha mãe – até então católica e contrária a prática do espiritismo e
coisas que ela chamava de Feitiço e Macumba -
encontrou a sanidade e a harmonia para continuar a sua vida, dentro do
terreiro de Umbanda que minha tia Regina (irmã mais velha da minha mãe)
trabalhava. Eu fui então gerado e anunciado para minha mãe dentro do terreiro,
cujo ela trabalhou como cambone posteriormente e no qual hoje estou lá servindo
a casa. De certa forma eu sempre tive contato, apesar de flertar com diversas
religiões, fugir muito da Umbanda, me tornar espírita (apesar de que considero
a Umbanda uma forma de espiritismo também) e ser atuante nessa área pela maior
parte da minha vida adulta, tive o chamado para estar dentro da Umbanda, por
meio da minha ex-esposa, diagnosticada com depressão. Enfim, após todo tipo de
tratamento, nada sem surtir efeito, “apelei para a macumba” como dizia a ela,
em tom de brincadeira. Pois bem, ela se curou e eu fui chamado a estar lá
dentro. Após uma passagem até rápida como cambone, me tornei médium de
atendimento, fui confirmado, depois coroado pai pequeno e hoje desempenho essa
função com o meu mentor também sendo considerado um pilar da casa em que atuo.
Ressalto aqui que eu sou Pai Pequeno ou Braço direito como dizem na minha casa,
o pilar é o mentor espiritual, Sr. Caboclo Rompe-Mato, que foi incumbido de
novas funções pelo guia-chefe da casa. A função que desempenho engloba tocar a
gira na falta dos dirigentes, dar opiniões, ser consultado, fazer cruzamentos,
amacis e também tocar o desenvolvimento mediúnico. Mas isso não é exclusividade
minha, pois temos também a D. Ivone, mãe pequena da casa, além dos três
dirigentes (irmãos) Neusa, José Antônio e Nivia Rodrigues.
Blog N.M.U- Sobre
seu livro. Gostaríamos de saber um pouco mais sobre o processo de produção.
D.R - Lá
no Perdido em Pensamentos (www.perdido.co) eu tenho um trabalho
voltado a desmistificar muitas questões da Umbanda, principalmente voltando ela
para o lado mais Popular e Tradicional. Justamente por isso em muito eu acabo
divergindo das “celebridades da Umbanda” que vemos. Muitas pessoas vinham até
mim pedir indicação de livros falando sobre Umbanda, principalmente para leigos
e para iniciantes, foi quando eu percebi que tinha uma enorme dificuldade em
indicar livros que era isentos ou que se propunham a realmente ensinar algo, ao
invés de simplesmente VENDER a sua Umbanda. Senti a necessidade de escrever
algo mais direcionado a esse público e que fosse de certa forma próximo da
isenção (claro que isso é utópico), para que fosse um porto-seguro para o
iniciante começar a sua pesquisa. Foi assim que surgiu o Conhecendo a Umbanda:
Dentro do Terreiro.
a) Quando decidiu escrever?
D.R -A decisão veio dessa necessidade de fornecer um caminho de iniciação nos
temas abordados da Umbanda. O que via eram autores querendo demonstrar que
possuíam grande conhecimento, muitas vezes escrevendo com uma linguagem pouco
acessível a quem está começando. Eu, no blog, tenho o cuidado em escrever de
forma que qualquer pessoa entenda, mas sem perder a qualidade da escrita e da
mensagem. Para isso me inspirei nos pretos-velhos, com sua fala simples, muito
popular, mas recheada de sabedoria e de profundidade. Claro que não chego aos
pés dessas entidades, mas eles foram meus norteadores.
b) Quais foram suas principais
motivações?
D.R - Acredito que a motivação
maior é compartilhar informação e mostrar que existem mais caminhos do que os
que são apresentados. Gosto de propor o pensamento, a reflexão e tenho uma
certa subversão ao sistema. Não gosto de ver pessoas se encherem de títulos
para falar e Umbanda, ao mesmo tempo em que atacam os títulos que outros
pesquisadores possuem. Um pastor estuda teologia e muitos estudam várias outras
áreas do conhecimento humano, como antropologia e sociologia, mas parece que na
Umbanda isso é um tabu. Pior, é um meio de explorar o neófito, o filho-de-fé,
para que continuem presos dentro dos terreiros e dentro da filosofia dos seus
CHEFES. Eu tento romper com isso, mostrando que a Umbanda, como toda religião
espiritualista, é um convite (intimação) a liberdade de pensamento. Não há
espaço para preguiça mental. Isso acaba por incomodar alguns poderes
constituídos.
c) Como se desenvolveu o processo de
produção? Por quanto tempo pesquisou?
D.R -Por já ter o blog, muito
foi aproveitado de lá. Algumas coisas na íntegra, outras peguei a idéia e dei
uma trabalhada no assunto. Claro que muito do que lá está se baseia em pesquisa
de literaturas existentes, na minha vivência no espiritismo, nos meus estudos
de muitas religiões e na magia. Porém, acredito que grande parte, vem da
intuição e das práticas do dia-a-dia, por isso dei o nome de Conhecendo a
Umbanda: Dentro do Terreiro, pois foi lá mesmo que aprendi. O blog surgiu em
2011 e o livro saiu em julho de 2015, logo posso dizer que foram quase quatro
anos de pesquisas.
d) Quais foram as maiores dificuldades
enfrentadas no processo? Tentou publicar por alguma editora do ramo?
D.R- A maior dificuldade é encontrar como publicar em um meio tão
complicado. A Umbanda se tornou monopólio de uma só editora, praticamente, as
demais não têm a abrangência de distribuição ou o acesso não é tão fácil.
Enviei para algumas editoras o meu texto, além de ser consultado por uma
editora espírita, que queria criar um selo sobre Umbanda, porém nunca obtive
respostas destes. Justamente por isso decidi que iria encarar uma publicação
autônoma, mas devido a falta de recursos e conhecimento técnico acabei optando
mesmo pelo Clube de Autores, sendo que é uma editora de Publicação sobre
Demanda, onde o autor não tem que arcar com o custo de produção, de forma
antecipada. Creio que passado um ano de lançamento do livro, não vou obter mais
respostas dessas editoras.
Minhas dificuldades são devidas aos meus textos carregarem um
pensamento próprio que muitas vezes bate de frente com o poder atualmente
constituído na Umbanda. Isso gera desconfiança nos editores, que visam lucro,
para lançar uma obra de um autor desconhecido e com um discurso avesso ao que é
pregado normalmente. Porém, depois de 9 mil seguidores no facebook, 1700
visitas diárias no blog e mais de 500 pessoas no grupo de estudos fechado que
eu gerencio, creio que a recepção dos meus textos é bem vista. Poderia ainda
citar como dificuldades a questão da diagramação, da capa do livro, etc. Tudo
isso gerou muita confusão, problemas e até vontade de desistir, mas fui
perseverante, pois sabia que deveria lançar o livro. Eu não tenho ganhos com
esse livro, todo o pequeno lucro resultante dele, vai para a tesouraria da Casa
de Caridade (nosso terreiro) em que trabalho, para manter a estrutura da casa,
infelizmente nossa tiragem foi baixa ainda. Mas já conseguimos ajudar como
reforço no caixa, pelo menos para dar o mínimo de conforto aos visitantes.
e) Seu livro, pode ser enquadrado em qual
categoria, das disponíveis?
D.R- Considero-me um escritor umbandista mais tradicionalista, porém não
sigo a tradição de Zélio, mas a tradição da Casa de Caridade Nossa Senhora
Aparecida, trazida até nós pelo Pai Dito. Essa é a minha tradição, porém, como
sempre me foi incentivado ouvir meus guias e estudar, hoje tenho um pensamento
bem mais complexo do que me foi apresentado na Casa de Caridade, mas vejo isso
apenas como um desdobramento normal dos aprofundamentos que faço. A CCNSA (Casa
de Caridade Nossa Senhora Aparecida) comunga de muitos valores da Umbanda do Zélio, porém nosso fundador, o
Padrinho Nelson (já desencarnado) não conhecia o Zélio e sua Umbanda, tendo
aprendido a Umbanda com sua mãe. A CCNSA em 2016 completou 60 anos de trabalhos
contínuos.
f) Quais
conselhos daria, caso fosse procurado, para umbandistas interessados em
publicar livros e outros materiais sobre a religião?
D.R- Diria para desistirem. Estou brincando.
Na verdade diria para que fossem o mais sinceros possíveis com a sua
própria linhagem espiritual, que procurassem por si mesmo avaliar as
informações que lhe chegam e que o seu processo de escrita respeite a sua
vontade e não vontades editoriais. Apesar de termos muitos escritores de
Umbanda ou de Espiritismo, poucos são confiáveis. Precisamos de qualidade, por
enquanto temos quantidade, plagiadores e alguns falsários. Precisamos de
originais!
Blog N.M.U- Ao
conhecermos seu trabalho no blog, lendo seu livro e acompanhando suas postagens
e debates nas redes, fica claro que sua idéia sobre os conceitos de Umbanda são
alinhados ao que poderíamos chamar de vertente Tradicional ou Popular, correto?
Mas levando-se em consideração as diferentes maneiras e ritos presentes
nas manifestações umbandistas, geralmente fruto da formação cultural de seu
dirigente e das entidades “chefes”, como você enxerga essa realidade de
múltiplas facetas tão arraigadas na Umbanda?
D.R- A Umbanda foi trazida pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas,
por intermédio do médium Zélio Fernandino de Morais. Isso é um fato histórico!
Porém não é o único revelador e não foi a única revelação, pois algo para ser
VERDADEIRO deve surgir de vários locais diferentes, com a mesma mensagem.
Zélio, assim como Kardec, foi o responsável por determinar as BASES e os
LIMITES: Gratuidade dos atendimentos, respeito a DEUS, caridade para com o
Próximo, proibição de magias negativas e também de sacrifício de animais, etc.
Porém, cada guia chefe, como é o caso da Tenda São Jorge (uma das que se
originaram diretamente da T.E.N.S.P, incluíram os atabaques e as giras de esquerda,
com a anuência do C.7.E) e da Tenda Mirim (do Caboclo Mirim, que instituiu uma
Umbanda Esotérica com alteração das 7 linhas principais), trazem novas informações
para aquele agrupamento de pessoas que se sentiram atraídas por aquela casa em
específico. Assim foi também com Matta e Silva e posso citar também com o
Padrinho Nelson (CCNSA/https://www.facebook.com/ccnsa). Em nossa casa também não é permitido o sacrifício de
animais, a magia negativa, a cobrança pelos trabalhos, não é permitido sequer
bebidas alcoólicas e velas pretas. Acredito que toda Umbanda que mantenha em
mente os PILARES deixados por Zélio e pelo C.7.E são legítimas.
Em meus workshops e
nos vídeos que publico no Canal do Pedido em Pensamentos sempre faço a analogia
da Casa. Digo que o C.7.E fundamentou as estruturas. Logo podemos mudar a
disposição dos móveis, mudar os cômodos, até mesmo derrubar uma parede ou
levantar outras, mas não podemos mexer na fundação da Casa, pois tudo irá
desabar.
Blog N.M.U- No
livro, você apresenta as “Sete Linhas de Umbanda”, conforme a clássica
definição de Leal de Souza na publicação “O Espiritismo, a Magia e as
Sete linhas de Umbanda, 1933”. As manifestações acerca deste conceito sofreu,
ao longo do tempo, variadas concepções. Você relaciona a falta de entendimento
desta questão a alguma visão ou manifestação equivocada neste contexto mais
“moderno” em que a Umbanda atravessa?
D.R- Entendo que é uma forma de tentar enxergar a sua estrutura
energética. Porém, creio que tem uma coisa de “Achismo” e de busca pelo
“africanismo” de forma exagerada, que acaba gerando umas aberrações. Eu mesmo
tenho o entendimento das Sete Linhas formadas basicamente como as de Leal de
Souza e da T.E.N.S.P, mas tem minhas próprias reflexões. Honestamente, minha visão
das Linhas se expandiu desde o lançamento do Conhecendo a Umbanda, pois eu vejo
a estrutura de Linhas, Falanges, Legiões, Povos e Tribos como algo muito
verídico dentro da Umbanda, logo para mim as 7 Linhas são: da Fé (Jesus
Cristo), da Demanda (São Jorge), das Matas (São Sebastião), da Justiça (São
Jerônimo), dos Ventos (Santa Bárbara), das Águas (Virgem Maria) e Linha de
Santos e Almas (São Bento e São Lázaro de Betânia).
Em minha visão, atrelo os santos como os regentes das linhas e vejo
os Orixás como uma sinonímia para forças da natureza ou manifestações divinas,
não como indivíduos, como é no Candomblé (em alguns) e algumas Umbandas mais
Modernas. As forças são superiores as entidades (os encantados e santos) e são
acessadas por estas, assim como qualquer divindade de qualquer parte do planeta
com seus domínios específicos podem também acessá-las.
A confusão maior na Umbanda ocorre justamente aqui, onde procura-se
colocar TODOS os Orixás dentro das 7 Linhas, sem compreender exatamente as Sete
Linhas e como elas se dividem. Acham que estar dentro de uma falange torna um
Orixá inferior, como é o caso de Oxum, como regente da falange das Águas Doces
e Correntes, que está dentro da Linha das Águas, cuja regência é de Iemanjá
(pelo sincretismo). Oxum não é inferior a Iemanjá, afinal esses nomes não são
indivíduos, mas apenas termos para designar coisas específicas, dizer Linha de
Iemanjá é o mesmo que linha das águas, logo por lógica podemos dizer que Iemanjá
= Todas Águas, e Oxum é uma água em específico, as que não são salgadas e que
estão em movimento.
Claro que a tradição
e as lendas Africanas são importantes, mas assim também os são as lendas dos
santos, a tradição cristã e as tradições e lendas indígenas, afinal quem fundou
a Umbanda foi um Caboclo Índio.
Blog N.M.U- O
movimento umbandista na atualidade tem sofrido muitas mudanças, fruto das
alterações socioculturais a que estamos submetidos. Recentemente, publicamos
aqui no blog, através de nosso editor, um texto sobre a “Escolarização da
Umbanda”, onde aspectos positivos e negativos da cultura de informação através
de cursos “online”, possam possibilitar uma formação umbandista aos
simpatizantes e leigos. Quais suas opiniões sobre o assunto?
D.R- Sabe, não sei se tenho uma opinião realmente formada por isso. Mas
uma coisa é certa, sou contrário ao sistema de formação que é vendido por aí
por micro-cursos rasos que nada ensinam, a não ser repetir o que os “mestres”
dizem, tolhendo os pensamentos e o raciocínio dos filhos-de-fé. Creio que o acesso a informação deve ser gratuito, quando se diz
respeito a religião básica, mas que seus interessados devam se aprofundar, se
quiserem. Uma coisa é fato, quem está destinado a ser chefe-de-terreiro será
avisado por uma entidade e raramente irá ansiar por esse cargo. Muitos fogem
disto, pois não se acham preparados o suficiente e realmente não estão e nunca
estarão. Porém, a espiritualidade o escolheu e ele tem a benção e o
acompanhamento dos mentores de sua coroa-mediúnica para exercer. Agora o
camarada achar que é “COOL” ser sacerdote, fazer um curso de 2 anos e sair de
lá despejando literatura copiada, não dá né? Mas os próprios do movimento já
perceberam que isso tem dias contados, estão mudando o discurso tentando distanciar
uma formação sacerdotal, mas usando ainda o mesmo nome. Como pode? Se eu entro
em um curso de matemática quero aprender e vou aprender matemática. Se entro
num curso de sacerdócio, vou aprender o que? A ser blogueiro? RSRSRS...
Tem muita gente escrevendo sobre Umbanda, gente boa, mas que não tem
mídia. Esses têm muito a falar e os antigos – que foram esquecidos – tem muito
mais. Para mim, a formação deve ser feita dentro do terreiro e complementada
fora deste.
Blog N.M.U- Dentro
da perspectiva do seu trabalho através do Blog, que demanda suas abordagens
para outros canais da rede, não teme ou receia tornar-se alvo caracterizações
de “Guru de Umbanda” ou qualquer outra denominação de liderança mistificada?
Como definiria seu trabalho para distanciar-se destes estereótipos?
D.R- Olha temi muita coisa já, inclusive disso interferir na minha
vida profissional. Porém, ouvindo o conselho do Caboclo Caçador (guia-chefe de
minha casa) percebi que as palavras devem ter um rosto e decidi aposentar o
pseudônimo que adotei nos primeiros textos que escrevi. Eu sou ácido por
natureza, sendo sarcástico em muitas vezes, o que se confunde com presunção e
arrogância, mas não é. Para quem participa dos debates mais ácidos do grupo de
estudos, sabe que apesar de eu tratar as coisas de forma ferina muitas vezes,
eu também ouço bastante e mudo freqüentemente de opinião se a coisa estiver
embasada. Não adianta vir me citar trechos de livros de Umbanda, como os
pastores fazem com a Bíblia, que isso não me convence.
Eu sei muito bem o que sou, sou um escritor, autor de alguns livros
(Conhecendo a Umbanda: Dentro do Terreiro, Breviário de Benzeduras e Orações –
Vol. I, Guia do Umbandista e o mini-ebook Ervário), que procura acima de tudo
se manter um estudante. Vi que esse caminho que decidi seguir, atraiu para mim
conhecimento, bênçãos e que eu ajudei algumas pessoas nesse percurso, por isso
devo me manter nele. Chamem-me como quiserem, pois sei que sou apenas um
curioso. Os títulos não me chamam atenção.
Blog N.M.U- Conte-nos um pouco sobre as abordagens presentes no seu blog, sobre os Exus
Trainees? RSRSRS....
D.R- Exu Trainee na verdade é uma brincadeira que surgiu dentro de um
grupo de amigos que diziam que eu era tão ácido que o máximo que poderia me
fazer era ser Exu. Então eu falei que estava em treinamento, em estágio, logo
era um Exu Trainee. Isso é apenas uma brincadeira, pois sei que muitos autores
e dirigentes consideram-se seres evoluídos que irão se tornar Oguns, Caboclos e
Pretos-Velhos depois do desencarne. Eu? Bem, se me tornar um obsessor já é
muita evolução para minha alma.
Blog N.M.U- Através
do blog, desenvolvemos também, um artigo sobre “indicações literárias para
umbandistas iniciantes”, onde dividimos as obras por categorias além de prezarmos,
sobretudo, as publicações entendidas como as de “dentro” da religião. Para os
leitores que nos acompanham, poderia indicar uma lista de 10 (dez) livros
fundamentais para conhecermos a História, Doutrina e Cultura de Umbanda?
D.R- Eu poderia citar uns 300 livros, mas vamos tentar nos ater a
10. Vou citá-los na ordem de importância de Leitura.
- Livro dos Espíritos, Allan Kardec.
- Livro dos Médiuns, Allan Kardec.
- Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec.
- O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda, Leal de Souza.
- Iniciação a Umbanda, Ronaldo Linares e Diamantino Trindade Fernandes.
- Mediunismo, Hercílio Maes e Ramatís.
- Tambores de Angola, Robson Pinheiro.
- Lições de Umbanda e Quimbanda na palavra de um Preto-Velho, Matta e Silva.
- Encantaria Brasileira: O livro dos mestres, caboclos e encantados, Reginaldo Prandi.
- Conhecendo a Umbanda: Dentro do Terreiro, Douglas Rainho.
Blog N.M.U- Agradecemos
a oportunidade de proporcionar ao blog e aos leitores que nos acompanham a
possibilidade de entendermos mais aspectos que fazem umbandistas como você, e outros por todo o país, pesquisarem e escreverem sobre a religião. Neste último
momento, oferecemos espaço sem qualquer limitação, para deixar aqui, um
registro aos nossos simpáticos e amigos leitores.
D.R- Eu agradeço novamente a você Felipe e ao seu blog No Mundo das Umbandas que é de excelente qualidade por essa oportunidade. Eu
acredito que somos nós autores e escritores que devemos agradecer aos leitores
por confiarem em nossas linhas e em nossos textos, sem um público que se
interesse, não há porque se escrever.
Vejo como muito importante essa coluna dentro do teu blog, dando voz
para escritores que não são tão conhecidos e isso me lembra exatamente como é
que a Umbanda foi fundada, para dar a voz aos espíritos que não podiam se
manifestar, devido ao preconceito e ao dogmatismo (elitismo) do espiritismo do
final do século XIX e início do século XX.
Também quero convidar aos leitores para que passem lá no nosso blog
também e conheçam todas nossas ramificações, no Youtube, no Facebook e mais.
Muito obrigado e que Deus, Jesus e a Virgem Maria abençoem seu trabalho.