sábado, 17 de fevereiro de 2018

O Mito da Alma. Entre a realidade e a fantasia.



E se descobríssemos que todas nossas crenças, divindades e possibilidades espirituais nunca passaram de sonhos ou mitos? Quais são ou foram as causas que nos levaram a acreditar na existência de almas? Em nossa própria essência como seres "encarnados"?
Essas são perguntas filosóficas que ao longo dos séculos muitos pensadores e as grandes religiões buscaram métodos para explicar, bem como, desenvolveram maneiras de nos persuadir. 
O israelense Yuval Noah Harari, em seu livro "Homo Deus - uma breve história do amanhã" - propõe sob perspectivas singulares quais são as verdadeiras "intenções" ou faces desses mitos. O historiador amparado por uma concepção cientificista - histórica, darwinista/evolucionista e biológica - por inferências elementares, demonstra a "fantasia"  envolvida para o mito da "ALMA" pertencente aos grandes troncos monoteístas. Nomeia "Epifania Humana", a narrativa religiosa que justifica a supremacia humana sobre outras espécies do planeta, produzida como ferramenta da coerção social, educacional, política e econômica. Somente os mitos e o terrorismo sobre o imaterial, poderiam conduzir até nossos dias toda população mundial aos estreitos panoramas produzidos pela geopolítica ao longo de séculos. Em outras palavras a alma, o paraíso, o inferno e a vida eterna são construções imaginativas dos seres humanos. Na página 109, do referido livro, o autor registra
..."A resposta monoteísta tradicional é que só o Sapiens são dotados de almas eternas. Enquanto o corpo se degenera e decompõe, a alma continua numa jornada em direção à redenção ou à danação e experimentará ou a perene alegria do paraíso ou uma eternidade de sofrimento no inferno... Não se trata de um conto de fadas de jardim de infância, mas de um mito extremamente poderoso que continua a moldar a vida de bilhões de humanos e animais no inicio do século XXI"...
Os argumentos demonstrados para justificar as afirmativas em torno do mito, são científicos, acentuadamente por uma perspectiva biológica:
..."No entanto, nossas descobertas científicas mais recentes contradizem completamente o mito monoteísta...Cientistas submeteram o Homo Sapiens a dezenas de milhares de experimentos bizarros, examinaram cada recanto de nossos corações e cada sulco em nossos cérebros. Contudo, até agora não descobriram nenhuma epifania mágica. A evidência científica de que, ao contrário dos porcos, os humanos têm alma é igual a zero"...    
Como defensor ferrenho das teorias evolucionistas, Harari, empreende significativa crítica ao contrassenso desenvolvido pelos "crentes" monoteístas, abre suas observações para o campo educacional, visto por muitos pensadores, não apenas por ele, como alicerce básico de qualquer civilização. Logo, onde mais dissemina-se construções do imaginário popular...:
..."Embora as escolas não estejam, evidentemente, fazendo um bom trabalho no ensino da evolução, os fanáticos religiosos ainda insistem que ela não deveria ser ensinada. Alternativamente, exigem que se ensine também a teoria do Design Inteligente, segundo a qual todos os organismos foram criados de acordo com o projeto de alguma inteligência superior (também conhecida como Deus). "Ensinem ambas teorias", dizem os fanáticos, "e que as crianças decidam por si mesmas"...
O pequeno recorte feito aqui não reflete a totalidade do pensamento do autor, tampouco pretende ser uma crítica desconstrutiva de sua teoria. Ambos os livros publicados por ele(Sapiens e Homo Deus), recomendamos, são no mínimo leituras "desconfortáveis", pois, levam o atento leitor à questionamentos que nem sempre fazemos em boa parte do nosso tempo. Estamos tão preocupados, imersos em nossos dilemas, conflitos domésticos, profissionais e existenciais que se quer questionamos algumas "ordens estabelecidas" em nosso modo de viver. Talvez para aqueles mais fervorosos e pouco habituados ao contraditório, o livro seja uma péssima aquisição. Até para nós umbandistas, em primeiro momento, visto que nossa crença baseia-se no intercâmbio com o mundo espiritual pode parecer até pouco aceitável ou irrelevante, porém, não é bem assim.
Em momento algum "culpa" as massas de acreditarem fielmente em determinadas teorias, sobre as quais ele nomeia mito, sem dúvidas, a crítica específica vai a um  modelo político e econômico historicamente reconhecido que, nunca permitiu, ou, fez o possível para abafar qualquer tentativa de surgimento alternativo para o modo de vida dos humanos, sobretudo no ocidente. Ainda que nos pareça estranho, a narrativa tenta demonstrar que em breve, talvez, tudo isso caia por terra. O Sapiens será o próprio Deus de sua existência. O mito virará folclore!

Agora, sem qualquer conflito, se quisermos explorar pontos abertos desta discussão é perfeitamente possível. Talvez, corrobore com a teoria dos monoteístas, isso porque, eles são a esmagadora maioria no mundo. Entretanto, pesquisas e descobertas de outras ciências e não com teorias teológicas próprias ou domésticas, como existem inclusive na Umbanda, traçaremos paralelos a efeito apenas, de informação aos nossos leitores.
Muitas pesquisas já comprovam o caráter "animista" na crença de diversos povos perdidos no tempo e na história. Essas civilizações, estão à milhares de anos dos surgimentos dos grandes movimentos monoteístas dos últimos 3.500/4000 anos. Em geral, surgidas nas mais variadas partes do planeta, civilizações de povos semi-nômades, e consequentemente, os primeiros assentamentos agrícolas, desenvolveram sistemas de crenças baseadas na relação com os aspectos da natureza, onde, Deus ou Deuses controlavam todos homens. Produziam uma lógica de intercâmbio entre a terra e o mundo dos mortos, além de estabelecerem quais os requisitos básicos deveriam ser alcançados pelos mortais para chegarem em tais esferas. O caráter dualista da existência, em muitos casos, não era atribuído somente aos homens, mas estendia-se aos animais, rochas, árvores, rios e mares também. Especialistas de grandes matérias de religiões comparadas afirmam que os principais troncos monoteístas (Judaísmo-Cristianismo-Islamismo), são em boa parte de sua constituição, um amalgama de diversas tradições de povos antigos. Um grande sincretismo definiu as crenças, rituais e práticas dogmáticas destes monoteísmos. 

Ainda sim, no paragrafo anterior, a tentativa foi elucidar apenas informações complementares às do autor, conforme grifos nossos, específicos para esta discussão. É necessário explorar alternativas "científicas" que produzam questionamentos e dúvidas. 
Abaixo, listaremos alguns exemplos. Sugerimos que o leitor abra os links enumerados para leitura complementar: 
01 - Os avanços da ciência da alma: Interessante reportagem do site da Revista Época em novembro de 2012, sobre pesquisa realizada entre cientistas brasileiros e americanos. (Chamada da matéria: Uma pesquisa inédita usa equipamentos de última geração para investigar o cérebro dos médiuns durante o transe. As conclusões surpreendem: ele funciona de modo diferente).

02- Pesquisa em mediunidade e relação mente-cérebro:  Artigo científico sobre pesquisa em análises detalhadas sobre a produção de médiuns, entre eles, Chico Xavier.  

03- Consciência Quântica: Teoria dos pesquisadores, Stuart Hameroff - Médico, e Roger Penrose- Físico/Matemático.                      

       
A reportagem, o artigo científico e o vídeo são apenas "fragmentos" do extenso material existente publicado e produzido por diversas áreas científicas e acadêmicas. Cada ramo do conhecimento ou área de pesquisa, tornará palpável as explicações dentro dos limites possíveis de suas atuações. Projetos multidisciplinares também podem contribuir nesse sentido. Contudo, devemos perceber que as conclusões e provas estão para os cientistas, assim como, Deus e as almas estão para os crentes. Cada um busca suas formas de respostas. 
Portanto e, contrariando até prognósticos mediúnicos/espiritualistas da literatura especializada, bem como  as do autor de Homo Deus, suspeitamos que algumas respostas não virão. Intrinsecamente o Sapiens necessita vivenciá-las...