sexta-feira, 20 de julho de 2018

Moral e Ética na perspectiva da Umbanda.







Na edição anterior, minha colaboração foi uma tentativa de estabelecer paralelos entre Umbanda e Filosofia. Certo que particular, generalista e de modo simplificado, pois, a medida que as conexões entre os temas existem, também podem ser inúmeros os caminhos para suas demonstrações. Naquela ocasião o intuito era formular “direções” ou “pistas” de como desenvolvermos, reflexões e estudos, tendo como base a filosofia para ferramenta de análise da cultura religiosa umbandista.
Para tanto, entendo, outros temas devem ser explorados. Opto por, Ética e Moral, na perspectiva de serem conceitos de bases da estruturação que arregimenta a Umbanda.
Sobre a moral, podemos encontrar:

 ...“Em um sentido amplo, sinônimo de ética como teoria dos valores que regem a ação ou conduta humana, tendo um caráter normativo ou prescritivo. Em um sentido mais estrito, a moral diz respeito aos costumes, valores e normas de conduta específicos de uma sociedade ou cultura”...(Dicionário Básico de Filosofia, Marcondes e Japiassú, 2001.)"...

Quanto a ética, temos:

 ...“Ciência da moral, ou ciência da conduta...Só agimos eticamente quando os nossos interesses pessoais não interferem nos processos desenvolvidos. Isso é fundamental para se pensar as nossas responsabilidades para com os outros, sejam eles, amigos, membros de nossa própria comunidade ou pessoas distantes”...(Dicionário de Conceitos Históricos, Silva e Silva , 2010, apud Singer, 1998.)"...

Os conceitos norteadores da moral são aqueles temporais de cunho cultural produtos de contextos específicos. Geralmente, derivados dos dogmas religiosos e passados oralmente por práticas em sociedade pelo mais velhos, condenando ou aprovando, atos e posicionamentos. Leitores, acreditem, já foi ato admissível e legítimo queimar pessoas em praça pública, apenas por apresentarem modos de vida mais esotéricos, ligados à magia ou a feitiçaria.


A Umbanda que se estruturou por uma amálgama de outras culturas e filosofias, carece de um olhar atento para não ser “julgada” moralmente inadequada e condenável. Se levarmos em consideração a entidade “Exú”, poderíamos ter distintos posicionamentos. Pela ótica judaico-cristã, massificada pelo colonialismo cultural de séculos em nosso país, é condenável  nos relacionarmos com uma entidade/divindade pagã de traços demoníacos,  a medida que pode corromper as virtudes humanas e encaminhar os mortais ao universo dos pecados. Em contraponto, pelos aspectos Nagôs-Iorubás, reverenciar, saudar e estabelecer vínculo com Exú é reafirmar conceitos como: Nascimento; força de criação; equilíbrio; caminhos abertos; proteção; fertilidade, dualidade e  zelo. Com estes exemplos, é nítido que RELATIVIZAR julgamentos morais antes de condenarmos qualquer prática, inclusive nas umbandistas, torna-se fundamental. Há  bibliografia vasta sobre os aspectos sócio-antropológicos de Exú, o trabalho que utilizo como referência até o momento, é a excelente dissertação de mestrado de Oli Santos da Costa - PUC Goiás: “Exu, o Orixá fálico da mitologia Nagô-Yorubá: Demonização e sua ressignificação na Umbanda”.

Quanto à Ética, imperativo é percebê-la como permanente e imutável. Princípio que conduz as ações humanas independentemente dos valores morais envolvidos, pois, a medida que um Estado democrático e laico existe - não somente na teoria - qualquer conjunto parcelado da sociedade, apesar de praticar conceitos morais específicos, deve sempre primar pelos fundamentos éticos universais estabelecidos.  
Na Umbanda a “máxima maior” preconizada como objetivo principal, pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, foi a CARIDADE. Logo, caridade, não é abstrata ou subjetiva, é afirmativa e determinante. Por exemplo: não viver da Umbanda, mas sim para ela; não interferir no livre-arbítrio alheio; não cobrar por trabalhos espirituais; atender a todos sem distinção de raça, credo ou opção sexual.
Para que a caridade espiritual ocorra, é necessário muito autocontrole para  não incorremos ao desmonte de privilegiarmos nossos interesses em detrimento da comunidade ou do bem comum. E quem sabe até dos nossos próprios egos.

Temo pela ética, nestes tempos onde um moralismo disfarçado de bons costumes determina um civismo inexistente. Temo pela ética, nestes tempos em que a moral  sobrepõe às práticas honestas de interesse do  bem comum. A começar pela Umbanda... 
Como diria o Caboclo Mirim em suas instruções:

…”É perigoso dar consulta, pois no mo­mento da consulta você assume uma responsabilidade espiritual séria con­sigo mesmo...”

         ...“A Umbanda tem fundamento e é coisa séria, para quem é sério ou quer se tornar sério!”...

 

OBS.: Esse texto foi elaborado como parte de uma colaboração para o projeto Revista do Leitor Umbandista, 2ª edição -Julho/2018, em conjunto ao Blog do Leitor Umbandista.