O tema que escolhi tratar neste momento, poderá ser em certa medida encarado como uma ofensa ou provocação, pelo menos, aos olhos dos mais partidaristas, para não dizer prosélitos, porém, adianto que minha intenção jamais foi ou será, provocar e ofender o ponto de vista de quem quer que seja e para conferir tal postura, caso você esteja chegando agora em nosso espaço, convido verificar nossas posições em outros textos e artigos desenvolvidos pela equipe do blog, onde, com toda certeza encontrará temas que buscam a desmistificação e a tentativa de esclarecimento, além do fomento incessante a fim de que nossos leitores participem com opiniões e críticas construtivas, permitindo assim a livre manifestação no blog.
Quando analisamos a quantidade de fundamentos, materiais e ritos que abrangem a prática umbandista teremos temas infinitamente diversos e complexos para serem pesquisados e estudados, uma vez que a Umbanda assumiu em seu desenvolvimento características de diversas culturas religiosas como o Espiritismo de Kardec, artifícios xamânicos de nossos nativos (índios), a crença em Jesus Cristo e nos santos pela influência católica de nossos colonizadores, do culto às forças da natureza com os Orixás dos Iorubás, além das relações com o ocultismo, fitoterapia, cromoterapia, astrologia, quiromancia entre tantas outras culturas que possam se aglutinar, em práticas de terreiros, que são pequenas células formadoras de um organismo muito maior.
Tratamos em publicações anteriores a questão da midiatização, sobretudo, por meio das redes sociais, tanto nesta coluna como em outros textos com caráter mais informativo, e encontramos as duas faces deste processo, as positivas e negativas. As positivas são aquelas que, compartilham idéias e manifestações em um espaço democrático garantido por um Estado de Direito, laico e intolerante às censuras e preconceitos, isso permite que a divulgação consciente e desmitificadora possa combater qualquer desinformação colaborando diretamente com a manutenção de uma memória coletiva ligada à Umbanda. Em contrapartida, temos os excessos negativos que os próprios simpatizantes e praticantes, estimulam e provocam, publicações de textos, mensagens, imagens e receitas para fins discutíveis, retroalimentam o senso comum da forma mais negativa possível em relação aos cultos de Umbanda, ou de quaisquer outras manifestações de feições mediúnicas em terreiros e centros.
A polarização política partidária que vem alicerçando-se nos meios religiosos, é muito perigosa para a manutenção de processos democráticos formuladores de perspectivas onde a diversidade cultural possa existir, além de incentivarem a segregação social e política a medida que os interesses são aglutinados para que os grupos "rivais" sejam impedidos de controlar as situações, tais conjunturas levam sempre aos confrontos e nunca ao diálogo tão necessário. Ressalto que esse status é uma leitura generalizada que não abarca somente a Umbanda, mais sim, todos os componentes e ideologias de nossa sociedade.
Talvez o leitor esteja se perguntando, o que tudo isso relacionado nos parágrafos anteriores têm ligação com o tema proposto? A Escolarização da Umbanda ?
Pois bem, é inegável que com o advento das relações por meio das mídias tecnológicas todos ganharam voz e espaço para produzirem seus entendimentos acerca de qualquer assunto, nosso espaço é um exemplo disso. O movimento umbandista muito por influência deste processo, de seus expoentes e de uma literatura mediúnica própria, vem desenvolvendo uma peculiar e louvável maneira de alteração na maneira de lidar com seus adeptos e simpatizantes, mas sobretudo, de estabelecer uma relação social mais aceitável aos olhos dos não esclarecidos, mostrando que a racionalização da fé também é uma de nossas preocupações. É neste sentido que a "escolarização" da Umbanda nasce com a iniciativa de esclarecer aos adeptos questões históricas, de fundamentos, de significados e práticas ritualísticas vêm se tornando gradativamente a maior "bandeira da causa", uma vez que criam nos umbandistas a idéia de que é indissociável qualquer situação sem esse modelo.
O alerta vai diretamente a este encontro, quando vemos os mais diferentes "nichos" umbandistas deliberarem cursos, palestras e debates que se restringem a atuação templária daqueles simpáticos aos seus trabalhos e por consequência chegam ás redes sociais como instrumentos de desmistificação e informação ao grande público que os acompanham mesmo á distância, galgados em bases teóricas que são variadas e de influências diretas ao trabalho desenvolvido, e principalmente sem quaisquer interesses comerciais. Esse é sem dúvidas, o ponto positivo da universalização da informação através da grande rede.
Em contrapartida, estão os setores, pois assim se identificam, que produzem de modo sistemático um pretenso movimento de educação e escolarização da Umbanda. São deliberadamente ramos que estimulam a criação de outros movimentos de igual teor, porém, com propósitos bem definidos, além de educacionais são também comerciais e claramente identificáveis. Utilizam ostensivamente redes sociais, correios eletrônicos, sistema de SMS e todas as outras formas de abordagem para atrair o olhar dos seguidores e curiosos. Produzem na grande maioria das vezes, conteúdos com unidade teórica e ignoram a contradição dos pontos de vistas acerca de muitos aspectos litúrgicos e doutrinários. Dificilmente produzem nos formatos propostos o acesso gratuito aos conteúdos e produzem efeitos negativos quando outras manifestações posicionam-se contrários aos seus conceitos cristalizados.
Todo este cenário é extremamente prejudicial e reflete a movimentação oriunda de um fenômeno social atual, de fragmentação por todos os setores que aglutinam ideologias, inclusive quando essas, estão próximas relacionando-se ao separatismo. A sensação um tanto quanto visível, também percebe-se hoje nos simpáticos e praticantes das religiões mediúnicas, manifestadas nas "redes", uma vez que as abordagens alternativas e nada convencionais com conteúdos apreciáveis, são de todas as maneiras descreditas e postas em dúvida, por não apresentarem as estruturas pelas quais deveriam se alicerçarem.
Pesquisar, estudar, participar de eventos, palestras, cursos e quaisquer outras atividades, quando produzidas e analisadas por diferentes ângulos, experiencias e fontes, são, sem dúvidas, meios eficazes de ampliar nossa visão acerca de nossas vivências, e na Umbanda não poderia ser diferente, o que temos à lembrar é que para todos os conceitos e concepções contraditórias existem pelos menos dois bons pressupostos: Atender uma determinada coletividade para assimilá-las à contextos e vivências compartilhadas. Contrapor exteriorizações assimiladas para buscar novas reflexões acerca dos conceitos e práticas.
Só não nos esqueçamos, umbandistas, da participação fundamental do plano espiritual para que tudo isso possa ocorrer!
Que Oxalá esteja com todos !
O Editor.