sábado, 6 de fevereiro de 2016

EXÚ NA UMBANDA #3


Olá amigos leitores !

Conforme prometemos, este é o terceiro texto da proposta que elaboramos para tratarmos a questão de Exú, dentro das perspectivas da Umbanda que entendemos e praticamos, não estamos colocando um ponto final no assunto, muito pelo contrário, temos consciência, ser Exú, matéria de estudos para as mais variadas áreas do conhecimento humano tanto dentro como fora dos círculos onde ele possa ser cultuado.
Já mencionamos em postagens anteriores que esta série foi concebida para ajudarmos os simpáticos da religião compreenderem quais são os significados, atributos e funções deste agente cósmico dentro de uma dinâmica própria de Umbanda, onde têm em sua espinha dorsal: Mediunidade e Magia.
São das referências bibliográficas, tão comuns aos nossos textos, que tentaremos ilustrar como Exú foi visto, cultuado e estudado ao longo desses anos na Umbanda. E para relembrarmos, abaixo, marcamos os dois textos que iniciaram essa discussão por aqui:


EXÚ NA UMBANDA

Por definição genérica, podemos apontar algumas características que hoje são consenso no movimento umbandista em "quase" sua totalidade quando falamos das entidades espirituais enfaixadas na linha dos Exús, entre elas, destacamos:(Senhor dos Caminhos, Guardião dos templos, dos médiuns e pessoas, além de auxiliarem as sessões de trabalhos atuando como o equilibradores de forças, permitindo o bom andamento das atividades nos terreiros...), dizemos isso pelo que percebemos nas manifestações em redes sociais, pelos discursos nas conversas informais e pelas publicações literárias acerca do tema Exú. Mesmo que os aspectos de suas manifestações não estejam uniformizados, tendo em vista que cada grupamento ou vertente os realizam conforme suas próprias tradições.
Vale ressaltar também que diferentemente do Candomblé, o Exú de Umbanda não é somente a manifestação da energia ou divindade Orixá responsável em ligar os homens ao céu, neste caso, pensemos nos Exús de Umbanda como um destacamento de milhares de espíritos humanos, homens e mulheres, enfaixados em determinada vibração com capacidade de manipulação energética, autorizados e orientados para se manifestarem através da mediunidade dos humanos encarnados. 

O fato é que nem sempre as coisas foram assim, durante as primeiras décadas após o surgimento da Umbanda muito foi produzido no campo literário, jornalístico, artístico e comercial, discursos foram proclamados e outras tantas informações foram disseminadas contra a atuação dos Exús dentro dos círculos espiritualistas e sobretudo na Umbanda. São várias, as referências existentes que citam obras e importantes expoentes da religião, além de pesquisadores e jornalistas que confirmam todo o processo de demonização ocorrido com Exú desde África onde refletiu-se em todo o movimento espiritualista de terreiro no Brasil.
O artigo de Reginaldo Prandi, Exú, de mensageiro a Diabo que citamos no texto anterior, traz-nos a idéia que a Umbanda foi a maior colaboradora deste cenário no Brasil, devido forte influência sofrida do cristianismo católico e do kardecismo, ambos europeus, que absorvendo os pressupostos da "moral" e de "bem e mal" destas culturas religiosas, colocaram os espíritos ditos de esquerda voltados para Quimbanda, já que estes seriam os marginalizados e demonizados do astral, prontos para atenderem qualquer pedido mundano em troca de pagamentos
Entendemos como correto este raciocínio mais somente até certo ponto, mesmo que as evidências documentais apontem para isso, sabemos também que o movimento de "embranquecimento" da Umbanda foi real, porém não ocorreu de forma totalitária, ou seja sem unanimidade por parte dos agentes envolvidos, sendo inclusive o motivo para que os rompimentos ideológicos abrissem campo para o surgimento de vertentes ou segmentos diferenciados. Esse processo que afastava as raízes africanas colaborou e muito para contestar o trabalho dos espíritos ditos da "linha de esquerda", já que estes, estavam ligados no imaginário popular, à Quimbanda.
O livro, História da Umbanda no Brasil volume 1, de Diamantino Fernandes Trindade que também citamos no texto anterior, encontramos referências de autores e textos que ao longo de décadas contribuíram para esse processo de marginalização das entidades. Abaixo, seguem alguns trechos que nos fazem ter idéia da apologia ao caráter demoníaco dos Exús:

[Aluízio Fontenelle, Exu] - Aponta na introdução de seu livro, para qual propósito foi escrito ...por se tratar de uma obra que define de modo claro e insofismável toda a atuação das entidades do Mal que se denominam Exus...
[Lourenço Braga, Umbanda (Magia Branca) e Quimbanda (Magia Negra)] - Os Exus são egoístas, interesseiros, vingativos etc...  
[Linares, Iniciação à Umbanda] - ...São espíritos de pessoas que antes de tudo são egoístas, mas, que provocam a dor e o sofrimento físico e mental, a seus amigos, parentes, dependentes e a quantos possa explorar, são espíritos sem luz e que se encontram tão atrasados, que independentemente de reunirem méritos para se igualarem aos espíritos de luz, tudo fazem para confundir-se com estes...

Os trechos citados acima são apenas uma mínima parcela que ilustra e representa toda uma onda formada envolta ao tema que, sem dúvidas, influenciaram as gerações futuras e a prática da religião. 
No blog Registros de Umbanda, seu autor, publicou uma pesquisa de elaboração própria e por inúmeros portais reproduzidos, muitas vezes até sem a devida referência, onde descreve quais são as vertentes da religião e suas características. 
Interessantes informações podem ser analisadas, porém para nosso estudo, apenas elencamos os segmentos que trabalham ou não com os Guias de Esquerda, pois, entendemos que todo este processo influenciou os setores que optaram por não cultuarem os Exús ou a rotularem pertencentes de outras práticas de terreiros. As definições ou nomes das vertentes são os apresentados pelo texto original, indicamos aos amigos a leitura completa do artigo que facilitará o entendimento da questão:As umbandas dentro da umbanda.



É importante salientar, que mesmo a grande maioria das vertentes acolhendo os Exús como trabalhadores, quase a metade ainda afirmam que estes espiritos são entidades da Quimbanda. 
Muitos atribuem que os espíritos enfaixados nestas atividades, estão em busca de um caminho para "luz", que buscam auxiliar os trabalhos de Umbanda para galgarem degraus acima na escala evolutiva da vida.
Aos maus espíritos, que não têm comprometimento com as Leis Divinas e apresentam-se nos terreiros como Exús "fulanos de tal", são na verdade Kiumbas, sofredores ou zombeteiros passando-se por entidades de Umbanda mais que na verdade são do ambiente extrafísico da Quimbanda.
Outros conceitos que estão em meio a todo este cenário, são os chamados Exús Pagãos, Exús Batizados e Exús Coroados tendo as respectivas classificações:

EXU PAGÃO: é aquele que não sabe distinguir o bem do mal, trabalha para quem pagar mais. Não é confiável, pois se pego, é castigado pelas falanges do Bem, então se volta contra quem o mandou.
EXU BATIZADO: é todo aquele que já conhece o Bem e o Mal, praticando os dois conscientemente, são os capangueiros ou empregados das entidades, a cujo serviço, e evoluem na prática do bem, porém conservando suas forças de cobrança.
EXU COROADO: é aquele que após grande evolução como empregado das Entidades do Bem, recebem por mérito, a permissão de se apresentarem como elementos das linhas positivas, Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Oguns, Xangôs e até como Senhoras. Seriam os Guardiões, Chefes de falange.

Outras definições e listagens de hierarquias espirituais ligadas aos Orixás ou a descendência dos falangeiros, também são utilizadas para explicarem as funções, as manifestações e características das "entidades de esquerda" pelas diversas formas de Umbanda pelo Brasil, que unem conceitos de duas, três ou mais religiões dentro de um mesmo universo . 
Nossa intenção foi tentar mostrar por esses breves parágrafos, que existiu resistência e existe até hoje por parte dos movimentos de Umbanda, e cultos afro-brasileiros em reconhecer a importância de Exú e suas entidades na dinâmica dos trabalhos, no equilíbrio mediúnico dos agentes e na manutenção energética dos templos. 
Ao nosso ver, há por parte da literatura contemporânea e dos movimentos mais recentes dedicados ao estudo sistematizado da religião, quase uma missão obrigatória em desmistificar  a questão para reaver uma lacuna que é histórica e ainda fará muito efeito no inconsciente coletivo.

Não rejeitamos a possibilidade de existirem "marginais do astral" que forjam apresentações e fundamentam tantas terreiros pelo país afora, assim como existem seres humanos pretensos e supostamente dotados de habilidades sobrenaturais, que cobram por trabalhos de feitiçaria e magia para fins escusos em nada comprometidos com os ideais da Umbanda, por exemplo. Entendemos, nestes casos específicos, classificar essas entidades como Exús pagãos ou com qualquer outra denominação que indique subdivisões dentro desta força é um equívoco de interpretação, pois nós, aprendemos que Exús são apenas entidades comprometidas com o trabalho caritativo próprio da UMBANDA e despretensioso de qualquer troca, pagamento ou barganha, além de ajudarem seus assistidos conforme sua própria evolução e méritos próprios alcançados. 

Agradecemos a audiência e paciência. Pedimos aos "camaradas" da esquerda muita luz e proteção ! Tenham todos uma ótima semana !