domingo, 7 de junho de 2015

"UMBANDA" - Por outra ótica e perspectiva



Saudações a todos !

Neste post traremos novamente a discussão sobre as diferenças existentes entre Umbanda e Espiritismo, através da análise e pesquisa do que entendemos ser um "olhar de fora". Em oportunidade anterior no artigo intitulado Espiritismo e Umbanda existem relações entre os dois ?   fizemos algo semelhante, porém, por vias históricas e conceituais além de enquadrá-lo no perfil que exige-se de um blog. Recentemente em um dos muitos grupos sobre religiões espiritualistas que acompanhamos pelas redes sociais, verificamos a sugestão de uma postagem sobre o site Biblioteca Virtual Espírita, onde pode-se encontrar um acervo excelente com enorme variedade, para os que gostam de leituras e pesquisas espíritas, inclusive tais materiais servem para nós umbandistas.

Entre livros, slides, revistas, apostilas, artigos e filmes que o site oferece, detivemos à atenção na seção organizada para os Artigos, afim de pesquisarmos materiais para futuras pesquisas e realizações de novas abordagens através deste espaço... Selecionamos inúmeros textos com excelentes temas que oportunamente serão esmiuçados e com certeza trarão boas reflexões e estudos, mas chamamos a atenção em caráter de urgência para o artigo intitulado "Doutrina Espírita e os Cultos Afro-Brasileiros " datado de Junho de 2009, com autoria de Jorge Hessen. 

No referido artigo, que o leitor pode visualizar o original através do título linkado, o autor sugere a urgência da diferenciação entre, o que ele chama de religiões "Afro- Brasileiras" (Especialmente a Umbanda e por seguinte o Candomblé) com a "Doutrina Espírita" preconizada por Allan Kardec, pois, são muitos os que sem preparo algum misturam e as colocam em patamares iguais assim agindo incorretamente para com as vertentes, colaborando ao imaginário popular na mistificação de uma em detrimento da outra. Por razões históricas amplamente difundidas, o povo brasileiro tem a cultura de uma maneira geral mística sobretudo nos assuntos religiosos e isso segundo o autor colaborou para tal "confusão" e o esclarecimento é a melhor maneira de definição...

Concordamos com o autor (Jorge Hessen) sobre necessidade de esclarecimento e conceituação que coloca cada Religião ou Doutrina filosófica em seu devido patamar contribuindo para que cada uma tenha seus aspectos conhecidos e estudados, salvaguardando suas memórias e importâncias na história da humanidade, porém, no artigo apresentado verificamos que faltavam melhores esclarecimentos, mais aprofundamento nas comparações com a Umbanda e o Candomblé que culminariam consequentemente em informações mais precisas, mas ao contrário, percebemos a falta de parte dos conhecimentos específicos sobre o que o autor chama de "Religiões Afro-Brasileiras" e um tendenciamento místico e fantasioso e  em favor delas, portanto, fazermos tais verificações é também contribuir ao trabalho e evidenciar o real panorama sem distorções ou equivocadas interpretações, é o que podemos acrescentar sobretudo em favor da Umbanda.  

Para que possamos delinear e contrapormos aos argumentos apresentados, vamos listá-los (alguns) em cor diferenciada (grifados) além de enumerá-los, para logo em seguida descreveremos nossos pontos de vistas, assim pensamos que a verificação das informações serão melhores apresentadas:

01- Contudo, reconhecemos que a Umbanda, por exemplo, mais se parece com o Catolicismo do que com o Espiritismo, devido aos rituais, aos atos sacramentais e à hierarquia sacerdotal, os quais não existem no Espiritismo. Kardec não enfrentou este tipo de problema à época. Entretanto, no Brasil, com as peculiaridades da índole brasileira, tudo tem que ter conotação especial. Para alguns, seríamos espíritas kardequianos e eles, "espíritas" umbandistas. Para outros, somos espíritas "mesa branca" e eles, de terreiros. Os termos não têm razão de ser, mas a urgência em nos diferençarmos de outras seitas religiosas tem levado certos espíritas a utilizarem essas inadequadas adjetivações.

01 - Generalizar a Umbanda como, mais "parecida" com o Catolicismo, pelos seus rituais litúrgicos e hierarquia sacerdotal é o primeiro dos erros identificados. Herdamos ou sincretizamos por processo natural, não só do Catolicismo mas de outras culturas religiosas e expressões populares brasileiras um contexto religioso e místico que sua base tem ligação direta com os processos históricos coloniais, ou seja, temos a representação européia, negra e nativa entre outras secundárias. Nossa hierarquização sacerdotal não é uniforme e globalizada como vemos no Catolicismo, não temos Papa, Arcebispos, Cardeais, Bispos, Pedres que relacionam-se em um sistema pré definido politicamente. Os sistemas hierárquicos dos terreiros de Umbanda são peculiares a cada casa, cada dirigente é independente, realiza sua "Umbanda" com a dirigência da "espiritualidade", não temos nenhuma figura no universo umbandista que se assemelhe com o Papa por exemplo, temos na verdade lideranças locais e regionais de vertentes, associações e federações, além de escritores e pesquisadores mais que nada podem interferir no trabalho alheio. Outro ponto a verificarmos diz respeito ao termo "seita", não entendemos ou aceitamos tal designação para com a Umbanda, onde no contexto do artigo relaciona à algo restrito e maligno, enxergamos como Religião e genuinamente brasileira, reconhecida legalmente na LEI Nº 12.644, DE 16 DE MAIO DE 2012. 

02 - Espiritismo não adota em suas reuniões: paramentos ou quaisquer vestes especiais; vinho, cachaça, ou qualquer outra bebida alcoólica; incenso, mirra, fumo ou quaisquer outras substâncias que produzam fumaça; altares, imagens, andores e velas; hinos ou cantos em línguas mortas ou exóticas; danças ou procissões; atendimento a interesses materiais, terra-a-terra, mundanos; pagamento de qualquer espécie; talismãs, amuletos, orações miraculosas, bentinhos e escapulários; administração de sacramentos, concessão de indulgências, distribuição de títulos nobiliárquicos; horóscopos, cartomancia, quiromancia e astrologia; rituais e encenações extravagantes; promessas e despachos; riscar cruzes e pontos; praticar, enfim, a extensa variedade de atos materiais oriundos de velhas e primitivas concepções religiosas.

02 - Sobre as diferenças ritualísticas existentes entre Umbanda e Espiritismo já mencionamos na postagem citada anteriormente,  ESPIRITISMO E UMBANDA - Existem relações entre os dois ?, onde claramente delimitamos as diferenciações, sobretudo em aspectos ligados a elementos e paramentos já que, a dinâmica do trabalho umbandista inclui elementos auxiliares possuidores de finalidades próprias e bem fundamentadas, o que não concordamos neste caso com o referido autor, são principalmente as expressões grifadas em vermelho.
  •  Comecemos por "Concessão de Indulgências", em linhas gerais essa é uma prática ligada principalmente ao catolicismo que a fim de conseguir caminhos alternativos para as exageradas penitências impostas aos pecadores, livrando-os de toda sorte de castigos e mutilações. Não entendemos que tal afirmativa se passe dentro da Umbanda, primeiro por não acreditarmos no pecado e muito menos realizamos atos penitentes para nos redimirmos deles, pelo contrário, acreditamos no livre-arbítrio ou no pensamento livre, onde a consciência humana possa encontrar caminhos e esclarecimentos devidos que subsidiem um  inicio de processo que geralmente é conhecido como "reforma íntima", onde a espiritualidade através dos Guias possam ser uma fonte de amparo e indicação aos caminhos.
  • Sobre o que o autor chama de "pagamento de qualquer espécie" também entendemos nada ter haver com Umbanda, pois seguindo premissas estabelecidas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas fundador da religião, a "caridade espiritual não seria negada a ninguém que recorresse ao culto", se existem pelo mundo algum centro ou terreiro umbandista que cobre de alguma maneira a "caridade" de certo é algo muito conturbado, menos Umbanda. A "caridade' que praticamos deve ser sempre 100% gratuita.
  • "Rituais e encenações extravagantes", se analisarmos qualquer tipo de ritual religioso que não estamos acostumados ou familiarizados, podemos formular impressões incorretas e tendenciarmos opiniões em situações inapropriadas, assim entendemos tal afirmativa, tratar de "encenações" os ritos presentes na Umbanda, sejam eles quais forem, para qualquer adepto é minimamente desrespeitoso, pois todos seus aspectos estão inseridos no universo religioso do qual respeitar ao realizar estudos comparativos simplesmente, é o mínimo que podemos considerar.                               
03- Rejeitamos, pois, assim, qualquer associação do Espiritismo com práticas distanciadas das orientações de Allan Kardec, da ética e dos preceitos codificadas por ele. Seria a Umbanda o mesmo que Espiritismo? Com todo respeito que os umbandistas merecem, respondemos que não! Umbanda é, basicamente, prática religiosa surgida entre os africanos bantos e sudaneses, trazidos para o Brasil como escravos. É o resultado do amálgama com o Catolicismo, reunindo ainda folclore, superstições e crendices, sem doutrina codificada.

03- Nós também rejeitamos sermos praticantes de uma "subcategoria" do Espiritismo, somos na verdade "Umbandistas", tais denominações segundo ao que fomos orientados servem para nos aproximar da alguma maneira ao sagrado durante nossa vida na terra, jamais deveriam servir para imprimirmos segregações religiosas e sociais no mundo. Sobre o surgimento da Umbanda no Brasil, verificamos desencontros nas afirmativas do estudo, das quais tentaremos por breves linhas esclarecer.  
  • A Umbanda é realmente uma religião sincretizada por culturas  que formaram o que conhecemos como hoje por povo brasileiro, ou seja, inclui em seu repertório traços dos nativos através da prática Xamânica e o cultos às forças da natureza, os africanos contribuíram com os Orixás, dos europeus temos a presença do catolicismo e do "espiritismo", acrescentaríamos à lista o "ocultismo" pois muitos são os elementos utilizados pela espiritualidade para os mais variados fins em favor do auxílio aos consulentes, que nem sempre os entendem, assim as bases religiosas sincretizadas que favoreceram o produto chamado "Umbanda" que caminha a muito autônoma e independente...
  • O surgimento da Umbanda no Brasil ocorreu em, 15 de Novembro de 1.908, na cidade de Niterói-RJ, o fato desenrolou-se na então sede da "Federação Espírita de Niterói" onde o jovem Zélio de Moraes foi "reprimido" pelo Dirigente da sessão "espírita" por manifestar espíritos juntamente com outras pessoas, chamados "inferiores" pois eram (índios, pretos-velhos...). Após alguns breves minutos de diálogo entre a entidade manifestada e o Presidente, o Caboclo marcara para o dia seguinte na casa do jovem a anunciação de um novo culto "ESPIRITUALISTA".
  • A falta de "codificação" citada pelo autor do estudo, talvez seja pela falta do livro sagrado ou por um conjunto deles que é peça fundamental para muitas religiões e filosofias existentes pelo mundo, este ingrediente não encontramos na Umbanda, quem idealizou e normatizou a prática, foi o próprio Caboclo das Sete Encruzilhadas na reunião citada anteriormente, além de oferecer os objetivos e metas que o novo movimento religioso deveria perseguir, estabeleceu normas em que as chamadas "Sessões", teriam os períodos de trabalho espiritual, diários das 20:00 às 22:00 horas, os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito, após alicerçou quais seriam as bases... 
"...Aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A prática da caridade no sentido do amor fraterno será a característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como mestre supremo Cristo..."
Outros inúmeros pontos que o artigo aponta são passíveis de contra-argumentações, o fator mais importante que podemos ressaltar está na compreensão de porque fazê-lo ? Realizarmos tal postagem é sobretudo pesquisar não somente sobre a Umbanda, mas também reconhecer os pontos de vistas que religiosos ou estudiosos "não umbandistas" têm sobre ela, para assim estabelecermos um diálogo respeitoso afim de eliminarmos as desinformações. Temos como pré-requisito de pesquisa, o respeito que reconhece as diferentes opiniões e concepções dos assuntos relacionados à  Umbanda, porém, debater pontos de vistas e relacioná-los é uma maneira de expressar que não existe verdade absoluta, inclusive as que externamos, muito menos desrespeitamos o referido estudo que nos serve de base para elaborarmos este texto, assim afirmamos o nosso respeito pelas opiniões do autor em questão.

Aos leitores recomendamos mais uma vez, e assim o faremos sempre, pesquisem e leiam as sugestões temáticas apresentadas, formem suas próprias opiniões e colaborem com nosso espaço, expondo suas idéias em comentários respeitosos e construtivos ! Desejamos à todos uma ótima semana ! Axé !