quinta-feira, 11 de junho de 2015

JUNHO - Mês de Xangô !


"Xangô é Rei é Rei Nagô
Ô bate palmas para coroa de Xangô
"


Saudações a todos !


Iniciamos o mês de Junho batendo palmas para Xangô, pois um muitos casos na Umbanda, este é o período do ano dedicado as festividades do Orixá que é sincretizado com São João e tem seu dia comemorativo em 24 de Junho. Outro santo comumente atribuído a Xangô é São Jerônimo, as festividades e lembranças transferem-se para 30 de Setembro. Essas diferenças são comuns no universo umbandista, dependem muito da região e aspectos culturais de determinados terreiros e centros. No livro "Os Orixás na Umbanda e no Candomblé" verificamos sincretismos diferentes de Xangô, com São Pedro (29 de Junho) e Moisés o profeta. 

As informações acerca dos Orixás e suas múltiplas formas de interpretações e apresentações, estão ao nosso ver, amplamente difundidas mesmo que nem sempre sejam fidedignas como suas reais essências, o que verificamos ocorrer através de uma minoria daqueles que costumam abordá-los. Neste sentido, selecionamos algumas fontes que explicam "Xangô" por perspectivas e métodos didáticos em livros comumente conhecidos dos umbandistas e até das pessoas ligadas aos cultos afro-brasileiros. 

Ao iniciarmos estudos relacionados aos Orixás é primordial reconhecermos o ponto de partida, onde o foco de pesquisas e leituras nos remeta a Mitologia Nagô-Iorubana, já que, à partir da chegada desta cultura através dos escravos africanos em nosso continente tivemos os primeiros contatos com tais Divindades, tanto no sentido ritualístico como também religioso. As obras de Pierre Verger foram o inicio de uma séries de estudos e pesquisas no campo acadêmico e científico relacionadas à cultura e religiosidade dos Iorubás no Brasil em especial dos cultos baianos, outro autor acadêmico que estuda a mitologia africana é Reginaldo Prandi autor do livro de contos "Mitologia dos Orixás", sendo exatamente desta obra que selecionamos um dos mitos referentes à Xangô, conforme segue...
Escultura em madeira: Deus do Trovão da Nigéria. Obra executada por Lamidi Olonade Fakeye (1928–2009).
"Xangô é reconhecido como Orixá da Justiça"


Xangô e seus homens lutavam com um inimigo implacável.Os guerreiros de Xangô, capturados pelo inimigo, eram mutilados e torturados até a morte, sem piedade ou compaixão. As atrocidades já não tinham limites. O inimigo mandava entregar a Xangô seus homens aos pedaços Xangô estava desesperado e enfurecido. Xangô subiu no alto de uma pedreira perto do acampamento e dali consultou Orunmilá sobre o que fazer. Xangô pediu ajuda a Orunmilá. Xangô estava irado e começou a bater nas pedras com o oxé, bater com seu machado duplo. O machado arrancava das pedras faíscas, que acendiam famintas línguas de fogo, que devoravam os soldados inimigos. A guerra perdida foi se transformando em vitória.
Xangô ganhou a guerra. Os chefes dos inimigos que haviam ordenado o massacre dos soldados de Xangô foram dizimados por um raio que Xangô disparou no auge da fúria. Mas os soldados dos inimigos que sobreviveram foram poupados por Xangô. A partir daí, o senso de Justiça de Xangô foi admirado e cantado por todos. Através dos séculos, os Orixás e os homens têm recorrido a Xangô para resolver todo tipo de pendência, julgar discordâncias e administrar justiça.


O sincretismo presente na Umbanda, é produto de novas interpretações das Divindades iorubanas que foram fortemente oprimidas pelos senhores de escravos na intenção de catequizar ou cristianizar os povos africanos, pois segundo sua ótica tinham concepções religiosas pagãs ou demoníacas e nesta luta por sobrevivência e resistência cultural reinterpretaram nos santos católico os atributos ligados aos Orixás, assim nascia essa relação tão intensa e simbólica que conhecemos hoje, sobretudo, no ambiante do umbandista que é posterior aos tempos que iniciaram-se as relações sincréticas.

As novas interpretações não são reinvenções que mudam os panoramas dos aspectos ligados aos Orixás, em nossa visão são adaptações necessárias ao novo contexto urbano e social que a Umbanda estava inserida logo após sua fundação, tanto os estudos mediúnicos e os não-mediúnicos ao longo de mais de um século de história trouxeram para Umbanda aspectos peculiares que indicassem sua identidade e fossem a base dos conceitos de seus rituais. Segundo o livro citado anteriormente, "Os Orixás na Umbanda e no Candomblé" de Diamantino Fernandes, Ronaldo Linares e Wagner Veneziani, obra que segundo seus autores é fruto de extensa pesquisa teórica e prática, Xangô é apresentado da seguinte maneira no que tange seus atributos e elementos:
Xangô é o homem maduro, aquele que sabe o que quer e como conseguir. É o homem chamado de "homem da idade do lobo", muito difícil de ser enganado. É o Senhor da Lei... 
Ministro da justiça do panteão umbandista, Xangô é visto sempre com misto de admiração e respeito. É temido e adorado e também é solicitado em todas as pendências, notadamente as judiciais... 
Popularmente, é comum acender-se velas marrons (cor da pedra e da terra) a Xangô com o intuito de direcionar a justiça em nosso favor...  
Elemento: o fogo celeste e as rochas
Domínio: os raios, trovões, a justiça e as questões jurídicas.
Metal: estanho
Erva Sagrada: louro
Flor Sagrada: lírio branco
Dia da semana: quinta-feira

Seguindo a trilha dos autores umbandistas, veremos distinções em nomenclaturas de elementos entre alguns poucos aspectos, tendo em vista os que foram abordados acima. Na obra mediúnica de Norberto Peixoto que é sacerdote de Umbanda e pertence a outra "escola" ou "corrente" de Umbanda, psicografou alguns livros com orientação do espírito "Ramatís", entre os quais destacamos "Umbanda Pé no Chão", em Xangô no tocante aos atributos e elementos, o livro cita:
Xangô Atributo: sabedoria e prudência; entendimento do encadeamento de nossas ações e reações, as quais estabelecem uma relação de causa e consequência no sentido de ascensão espiritual (equilíbrio cármico).
Aspectos positivos: justiça, discernimento, palavras adequadas no momento certo, equidade, nobreza de caráter, atitude digna, organização e trabalho, progresso cultural e social, altivez e inteligência. Têm habilidade na oratória e no domínio das multidões, e gostam do conforto.
Aspectos negativos: onipotência, rigidez de opiniões, vitimização, palavras metálicas que ferem ("só eu tenho razão"...), prolixidade, vaidade exacerbada e conservadorismo extremo.

Florais de Bach: Vervain, Rock Water, Beech e Willow.
Florais de Saint Germain: Verbena, Piper, Alcachofra e Wedélia.
Saúde: problemas no sistema cardiovascular, podendo aparecer hérnia, hipertensão, estresse e ansiedade (impotência masculina).
Mineral: ametista, topázio.
Metal: estanho.
Signo: sagitário/peixes.
Planeta: Júpiter.
Ervas: guiné, pára-raios.
Flor: lírio branco.
Chackra: cardíaco.
   

Em outra vertente que conhecemos como "Umbanda Sagrada", tem em Rubens Saraceni (falecido recentemente) seu principal médium, escritor e sacerdote, somado a um grande acervo bibliográfico de caráter mediúnico com estudos e concepções próprias à respeito da religião e dos Orixás. Escolhemos dentro desse universo literário de possibilidades, o livro "Orixás - Teogonia de Umbanda"  para ressaltarmos algumas informações do Orixá Xangô, seus aspectos e elementos, mas levaremos em conta os atributos universais ou generalistas e não os técnicos e difíceis conceitos (Níveis vibratórios hierárquicos naturais, níveis intermediários, pares e combinações de pólos positivos e negativos....) que geralmente encontramos nesses livros...
Xangô é o Orixá da Justiça e seu campo preferencial de atuação é a razão, despertando nos seres senso de equilíbrio e equidade, já que só conscientizado e despertado para os reais valores da vida a evolução se processa num fluir contínuo...
O Orixá Xangô é o Orixá natural da Justiça e está assentado no polo positivo da linha do Fogo Divino, de onde se projeta e faz surgir sete hierarquias naturais de nível intermediário, pontificadas pelos Xangôs regentes do polos e níveis vibratórios intermediários da linha de forças da Justiça Divina...
Oferenda: Velas brancas, vermelhas e marrons; cerveja escura, vinho tinto doce e licor de ambrosia; flores diversas, tudo depositado em uma cachoeira, montanha ou pedreira.         
A Umbanda está repleta de vertentes e correntes culturais que diferenciam-se uma das outras, por isso elencamos apenas os autores e livros citados por questões meramente comparativas e exemplificadoras, pois, fazer um paralelo com todos que produzem conceitos por vias da mediunidade ou por pesquisas teóricas, seria algo impossível por este canal, já que mesmo dentro de um mesmo seguimento não existe a uniformidade de conceitos, de aspectos ligados aos Orixás como características, datas comemorativas, elementos, dias da semana... Enfim cada Dirigente ou Sacerdote contribui  ao seu universo aquilo que é próprio, adequado e consentido pelo plano espiritual que os dirige.

Nos exemplos apresentados verificamos nítidas diferenciações em diversos sentidos, tais como,  apresentações, formas de linguagem, concepções e conceitos, um exemplo que podemos ressaltar, está na definição do dia da semana consagrado e direcionado à Xangô, em primeiro momento percebemos segundo o livro "Os Orixás na Umbanda e no Candomblé"  define Quinta-feira como seu dia, contrariamente dedicamos a Quarta-Feira para Xangô, é assim na maioria das casas e terreiros de Umbanda, outo ponto que poucas fontes consultadas creditam é seu sincretismo com Moisés. Atribuições de Ervas, Chakras podem variar também, assim como uns assimilam metais enquanto outros apenas os minerais ou até quem defina os dois elementos, para nós constituem apenas, pequenos detalhes "técnicos" que em nada mudam a real essência do Orixá.

Os principais pontos a serem observados, comuns a qualquer vertente de Umbanda e de Cultos-Afros relacionados á Xangô são: Justiça, Razão, Equilíbrio, Liderança, Inteligência e Nobreza de Caráter que são energias ou Axé transmitidos por ele aos homens da terra ! Saravá Xangô !




                              

REFERÊNCIAS:

- Mitologia dos Orixás (Reginaldo Prandi)
- Orixás e Teogonia de Umbanda (Rubens Saraceni)
Os Orixás na Umbanda e no Candomblé (Diamantino Fernandes, Ronaldo Linares e Wagner Veneziani) 
- Fundação Pierre Verger