sábado, 29 de agosto de 2015

ANÁLISE LITERÁRIA - Rosa Branca de Umbanda


Saudações a todos !

Após anunciarmos nossa parceria com a Ícone Editora, fomos contemplados com alguns volumes, e por aqui, realizamos a publicação das resenhas oficiais, como por exemplo, foi o caso do livro "Rosa Branca de Umbanda"Resenha 01 - Ícone Editora, com um post de caráter informativo. Este mesmo volume, foi o primeiro dos recebidos que realizamos a leitura, e para vocês amigos leitores, preparamos uma análise cuidadosa e responsável da obra, esperamos que curtam e se tiverem, por ventura, conhecido o livro registrem nos comentários as impressões adquiridas...

ROSA BRANCA DE UMBANDA

A obra não chegou tarde de mais ao contexto umbandista! Muito pelo contrário, o autor Rogério Golemieski, nos apresenta um excelente estudo que trata a religião de Umbanda por diferentes perspectivas.
Na apresentação e introdução do livro, fica claro ao leitores sua procedência cultural e militância dentro da religião, além preocupação em alocá-la na categoria de estudo comparativo e análogo à história e antropologia cultural tão necessária para entendermos certos aspectos de nossa religião, que ao mesmo tempo é tão presente na cultura de nosso povo.
Outro importante apontamento, diz respeito a analogia que autor buscou com a Doutrina de Kardec, sobretudo por suas obras, de modo muito feliz ao nosso ver acertando seu objetivo, mesmo que pertençamos a realidades ritualísticas diferentes, as leis universais e cósmicas que regem a espiritualidade e a vida material são as mesmas, o que aconteceu ao longo da história foi um grande apanhado de culturas e cada qual ao seu tempo, sua maneira, que estudaram e interpretaram essas "leis" conforme suas possibilidades e compreensões, neste caso, ao contrário da opinião de muitos, é esse o papel fundamental que a Doutrina codificada por Kardec representa, e neste livro, as analogias e comparações foram bem empregadas e muito oportunas, pois, no movimento literário espiritualista contemporâneo, seja umbandista ou espírita, há um grande esforço em desassociar os movimentos que não são a mesma coisa, porém pertencem e lidam com universos muito similares. 
     
Com certeza, se tivéssemos lido este volume alguns meses atrás, incluiríamos na postagem de Indicacoes para leitores umbandistas e enquadraríamos na categoria de livros doutrinários, por apresentar a história e as estruturas religiosa e ritualística da Umbanda sem dispensar seu caráter multicultural e caritativo. 
Nos aspectos históricos da religião, encontramos o que não poderia ser diferente, já que é primordial estar presente e reforçando a memória para assim creditar os fatos aos agentes verdadeiramente envolvidos. A Umbanda anunciada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas manifestado através do médium Zélio Fernandino de Moraes, mostra-nos todo seu desenvolvimento desde a fundação em 1908, passando pelo movimento de expansão com as tendas supervisionadas e chefiadas espiritualmente pelo Caboclo, até o desencarne de Zélio de Moraes em Outubro de 1975, tudo isso com a agradável narrativa e precisa referência de Jota Alves de Oliveira em "Umbanda Cristã e Brasileira", ao lermos esta narrativa, entendemos a analogia utilizada pelo autor para batizar o livro como "Rosa Branca de Umbanda", até então não percebida nós...
..."No dia 15 de Novembro o jovem Zélio foi convidado a participar da sessão. O Dirigente dos trabalhos espirituais determinou que ocupasse um lugar à mesa. Tomado por uma força estranha e superior a sua vontade, contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, o jovem levantou-se dizendo: Aqui está faltando uma flor - e saiu da sala indo ao jardim, voltando logo depois com uma flor, (uma rosa branca), que depositou no centro da mesa"...
Ao explicar o que é a religião de Umbanda, busca apresentar diferentes fontes que a definem basicamente como o Caboclo das Sete Encruzilhadas sintetizou, Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade. Realiza comparativos que buscam delimitar os diferentes universos existentes entre a Umbanda e o Candomblé, explica as chamadas vertentes ou correntes da  religião , aliando a isso, um breve descritivo sobre as religiões afro-brasileiras e suas predominâncias em determinadas regiões do Brasil. 
As relações do sincretismo com as religiões afro-brasileiras muito presente na Umbanda, é desenvolvida com as bases dos estudos e publicações de Pierre Verger e Reginaldo Prandi, essas relações são entendidas quando aprofundadas por questões levantadas pelo autor que, de maneira simples são identificadas pelo leitor, além de claramente justificadas, dentre os questionamentos verificamos por exemplo, quando começaram os processos sincréticos? Quais as formas e maneiras que se apresentam? Como esse movimento, iniciado anteriormente, chegou ao ambiente da Umbanda? Questões de suma importância, para que o grande público, entenda o porque da Umbanda festejar Ogum como São Jorge por exemplo... 

Organiza também interessante e esclarecedor ponto sobre os Orixás na Umbanda, apresentando estudos comparativos com a mitologia africana para entendermos que a ancestralidade presente nas culturas afros, estão voltadas ao universo politeísta com o panteão de Deuses em personificações humanas, já na Umbanda temos o monoteísmo, com o Cristo-Oxalá na condução de nossas existências e creditando aos Orixás ás forças naturais ou Emanações Divinas do criador. Seguindo neste contexto, o autor, chega aos temas Religião e Mitologia, traça interessante linha de compreensão onde busca por referências históricas e antropológicas as relações da humanidade com a concepção dos mitos que culminaram em sistemas religiosos primitivos, após as civilizações formarem os primeiros grupos sociais. Neste contexto temos as relações entre Magia e Religião, as realizações magistas nas religiões por um panorama bem abrangente sobre suas origens, aplicações e diferenciações entre a Magia Branca e Magia Negra, e por fim a prática magista no contexto umbandista, as aplicações e definições para suas práticas, como despachos, oferendas, uso de velas, álcool, fumo, guias, banhos, pontos riscados e cantados. 

O tema das 7 LINHAS DE UMBANDA, tão debatido, estudado e publicado por vários expoentes da literatura umbandista está presente também nesta obra, e o que nos chamou atenção de forma positiva foi o autor basear-se para ilustrar o tema, os escritos de Leal de Souza o primeiro autor umbandista a publicar o assunto, reforçando o caráter histórico que a obra também pretende ilustrar, nossa reação positiva deu-se ao fato de sermos muito simpáticos ao trabalho do referido autor. Seguindo este viés, mas por perspectivas novas e próprias, encontramos nas definições de cada linha os Orixás e associados à eles, uma série de tópicos que formam a estrutura de conceitos inter-relacionados que produzem ao leitor, um amplo campo de visão do autor sobre os Orixás, então, para cada um dos Orixás abordados, temos os seguintes campos de exploração: 

* Visão Holística do Orixá
* Personificação do Orixá
* Os Guias da vibração do Orixá
* O Orixá como personagem histórico
* Lendas mitológicas do Orixá

Abaixo uma ilustração de nossa produção, dos Orixás abordados no livro e suas características predominantes.



Por fim, um capítulo somente sobre Exú. Como citamos anteriormente em todo livro, o autor, busca na codificação de Kardec e na bibliografia de Chico Xavier além de outros, analogias, que explicam ou contextualizam, certos conceitos e parâmetros de modo  que o leitor assimile as informações também pela ótica das leis universais de ação e reação, leis de reencarnação tão esmiuçadas pela Doutrina Kardecista, neste sentido transfere à Exú, o "grau" de espírito que busca progredir consciencialmente e espiritualmente sua jornada evolutiva, colaborando seja no plano terreno, nas sessões mediúnicas ou cooperando na função de guardião energético e astral das tendas.
Cita, somando este cenário Leoberto Leal, W.W. Matta e Silva e Zélio de Moraes, todos em algum momento e por alguma circunstância trataram na Umbanda o "mito" entorno de Exú, já que por preconceito e desinformação, Exú é sempre associado aos cultos e práticas de "magias negras" com fins comerciais que nada tem haver com o verdadeiro sentido desempenhado por estes espíritos na Umbanda.

Qualquer iniciativa, responsável e consciente visando a propagação da Umbanda e legitimando sua cultura, filosofia e doutrina deve ser sempre incentivada, nós recomendamos a leitura de Rosa Branca de Umbanda, não por concordamos com todas as ideias, mas por termos adquirido e complementado muitas informações àquelas que já tínhamos de pesquisas anteriores, sobretudo, pelo estilo de abordagem diferente que percebidamente não está atrelada a qualquer vertente, sendo o produto de pesquisas em diferentes áreas importantes ao entendimento da religião, o vale muito a leitura !
Boa semana a todos ! Axé !